Instituto de Ciências Biomédicas e Faculdade de Farmácia também arderam
a No Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), a dezenas de metros do edifício da reitoria, o fogo chegou com a forma de uma violenta explosão, pelas 3h00 do dia 5 de Março de 1992. Como em 1974, na Faculdade de Ciências, a tragédia chegava de madrugada. E, tal como quase vinte anos antes, foram estranhos que alertaram os bombeiros. No caso do ICBAS, a chamada de auxílio foi feita pela enfermeira de serviço do vizinho Hospital de Santo António.Mas as semelhanças ficam-se por aqui. Porque, enquanto no fogo de 1974 a hipótese de curto-circuito foi praticamente descartada, em 1992 é quase certo que terá sido precisamente um curto-circuito a originar o incêndio. Na altura, o pró-reitor Nuno Grande dizia ao PÚBLICO que a destruição pelas chamas de parte do ICBAS era "um acidente previsível", dado o mau estado da rede eléctrica do edifício. A indicação de que algo de grave se
passava chegou aos ouvidos da tele-
fonista do hospital de forma estron-
dosa, com a explosão que arrancou parcialmente o telhado do ICBAS. Seguiram-se rebentamentos mais pe-
quenos com chamas altas à mistura, que consumiram a ala sul do edifício, apesar dos esforços das três corporações de bombeiros da cidade - o Batalhão de Sapadores Bombeiros, os Voluntários do Porto e os Voluntários Portuenses - que, tal como haviam feito em 1974, tentaram salvar mais um edifício ligado à Universidade do Porto.
O fogo terá começado no Laboratório de Bioquímica, alastrando ao salão nobre, onde se encontravam instalados os armazéns gerais e de produtos químicos. Afectados foram também os serviços administrativos da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física e alguns laboratórios da Faculdade de Ciências. Perderam-se vários documentos e material de laboratório, que tinha acabado de chegar e ainda não fora distribuído pelas diferentes faculdades, além de apontamentos irrecuperáveis, teses de doutoramento de estudantes e trabalhos de investigação de docentes. Os bombeiros demoraram mais de duas horas a controlar as chamas mas de manhã o edifício já estava suficientemente seguro para receber a visita do Presidente da República, Mário Soares. Isto depois de ter sido inspeccionado pelos professores que, munidos de um contador Geiger, mediram a radiação no local. Felizmente, o material radioactivo armazenado no ICBAS estava "em perfeitas condições", guardado numa arca congeladora blindada. E ain-
da congelado.
Depois do incêndio de 1992, o ICBAS reivindicou ainda mais veementemente a construção de um novo edifício. Contudo, só recentemente é que o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, aprovou a proposta de adjudicação da empreitada que permitirá ao instituto partilhar uma nova casa com a Faculdade de Farmácia. Que, diga-se, também sofreu um violento incêndio a 16 de Maio de 1975, no prédio que faz gaveto entre as ruas de Aníbal Cunha e de Álvares Cabral. Aqui o fogo começou pelas 13h50 e o BSB recebeu mesmo uma chamada, pelas 18h00, avisando que "outros edifícios públicos se seguiriam". Mesmo não se sabendo o que provocou o incêndio, nunca se provou que tenha havido sabotagem.