Braga precisa de repensar as actuais políticas de mobilidade e de urbanismo
Estudo de mobilidade, lançado pelos TUB, salienta que o actual modelo favorece o transporte individual e prejudica a competitividade
a A cidade de Braga apresenta um "grande potencial de crescimento" da mobilidade, mas terá de repensar o seu modelo urbano, que favorece a utilização da viatura própria e coloca em causa a sua competitividade no espaço ibérico. A opinião é defendida por António Babo, professsor universitário e especialista em transportes, e consta do parecer que o técnico elaborou com base no estudo de mobilidade realizado pela empresa dos Transportes Urbanos de Braga (TUB), cujos resultados foram ontem apresentados. Em síntese, o parecer conclui que um dos problemas de Braga é o facto de a cidade estar desenhada para os carros. "A situação a que se chegou assenta numa excessiva dependência em relação ao carro próprio", constata Babo, o que "não permitirá uma evolução da mobilidade para níveis mais exigentes" e põe em causa a própria "atractividade" que Braga "terá de exercer no espaço ibérico". O parecer salienta, por outro lado, que "uma distribuição mais equilibrada" por diferentes meios de transporte "depende sobretudo das políticas de transporte e urbanismo".
A realidade actual de Braga acarreta, na sua opinião, consequências negativas que são enumeradas no parecer: constrangimento à mobilidade, incumprimento de metas ambientais e "impossibilita um desempenho ener-
gético adequado". "É, portanto, a pró-
pria competitividade da economia urbana que pode vir a estar em causa", sublinha o técnico, que defende uma "alteração profunda" na política de mobilidade, que deveria ser "orientada para a promoção do cidadão multimodal".
Apesar de mais de 80 por cento dos inquiridos terem dado nota positiva aos TUB, António Babo considera que o autocarro "terá esgotado a mar-
gem de captação de novos utentes" devido à "excessiva dependência da população em relação ao automóvel" e, por outro lado, por causa do "congestionamento" do trânsito. Lembrando que o centro da cidade é ponto de origem e destino de 54 por cento das viagens, Babo considera que "um maior investimento" no serviço de autocarros dos TUB, "por si só, não chega". Como solução aponta o "reforço e melhoria das zonas pedonais", o incentivo à utilização da bicicleta e a "utilização da linha de comboio actual em modo de exploração tipo metro" (ver caixa). A solução, acrescenta o técnico, pode ainda passar pelo bikesharing e o carsharing, medidas que passam pelo aluguer ou empréstimo de bicicletas e carros, respectivamente, e que têm vindo a ser praticadas com sucesso noutras cidades europeias de média dimensão.
O estudo de mobilidade surgiu na sequência da discussão pública sobre o eventual regresso do eléctrico ao centro da cidade e foi levado a cabo por uma equipa dos TUB. Teve por base um inquérito de opinião - elaborado com o apoio técnico e científico da Universidade do Minho - que envolveu 1111 residentes em Braga.
O prolongamento da actual linha ferroviária até Gualtar é uma das soluções apontadas. Além de descongestionar o centro da cidade, incrementaria a mobilidade e tornaria o transporte público mais atractivo. A solução a estudar seria o enterramento da via-
-férrea sob a Circular Norte, num trajecto que ligaria Maximinos ao novo estádio de Braga, Universidade do Minho, futuro hospital de Braga e Centro Ibérico de Nanotecnologias. Esta linha deveria ser explorada como metro, com altas frequências em vaivém. Desse modo, seria criado um transporte complementar num trajecto que em parte seria paralelo à linha de autocarros com maior procura (Celeirós-
-S. Mamede de Este)