Third

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Como disse Geoff Barrow, não fizeram esses convites por acaso. Fizeram-no pelo tipo de sons e de bandas que os inspiraram para o novo álbum. Não só isso é verdade – e a essas influêcias poder-se-iam acrescentar Can e Kraftwerk – como funciona. O mais fácil para os Portishead, dez anos depois, seria voltarem na versão charmosa e nocturna que lhes granjeou sucesso. Mas como não pararam de afirmar, cansaram-se de servir de banda-sonora para pequenos-almoços em hotéis estilizados. Não podem controlar a utilização que é feita da sua música, mas é pouco provável que tal venha a suceder com "Third". Existe gentileza por aqui, mas descobri-la implica passar por cenários distorcidos. É um disco abrasivo, mais disforme, menos evocativo do que aquilo que conhecíamos deles. O cenário é mais John Carpenter do que David Lynch. As canções mudam de direcção bruscamente, a melancolia existe, mas não conforta, perturba, intriga, provoca. Oiça-se "Machine gun", com Beth Gibbons no meio de um incomodativo ritmo electrónico, percussivo e marcial. A voz mantém o poder de sedução, mas agora rodeada por subúrbios onde o horror irrompe, ou campos bucólicos onde a desolação impera. Da electrónica mais industrial à folk mais campestre, não há muita luminosidade a irromper por aqui. As guitarras são crispadas, os ritmos de algumas canções mais próximos do rock minimalista dos Can do que do hip-hop. O que se mantém é a gravidade emocional, a justeza da intensidade dramática, a vontade de atribuir o nome exacto às coisas, porque não pode ser de outra forma. "Third" é muito bom. Mas não é obra para se deixar invadir à primeira. Talvez à terceira.

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