Ahistória de um elefante despassaradoque descobre existir uma populaçãode seres microscópicos, os Quem, nointerior de um grão de poeira (e dopresidente da Câmara de Quem Vilaque descobre que o seu mundo é umgrão de poeira), parece feita à medidapara o delírio criativo da equipa dosestúdios de Chris Wedge, que aquipassa até por um hilariante interlúdiooriental-manga em duas dimensões,por uma homenagem às ilustraçõesoriginais de Seuss e por um semnúmerode geringonças rebuscadasdeslumbrantementepormenorizadas. Mas a metáforaoriginal do conto - uma alegoriasobre a diferença e a tolerância, comHorton e o Presidente da Câmaraforçados a convencer os "descrentes"de que não estão passados doscarretos - ganha um subtexto curiosoquando Horton tem de enfrentar a"maioria moral" encabeçada pelasisuda Sra. Canguru, que acusa obem-intencionado elefante desubverter os padrões éticos e moraisvigentes na selva (qualquersemelhança com os "values voters"da América profunda não nos pareceser pura coincidência...) enquanto osQuem enfrentam o apocalipse bíblicodo seu universo.
Dito isto, "Horton e o Mundo dosQuem" explica ao mesmo tempoporque é que a Blue Sky não fica nadaatrás da Pixar e porque é que não lhechega aos calcanhares: porque a suaanimação é tecnica e criativamentetão extraordinária como a da Pixar,mas não é acompanhada pelainspiração dos argumentos,sistematicamente mais convencionaise menos burilados. É também issoque minimiza "Horton", apesar do"casting" inspirado das vozes daversão original ( Jim Carrey, CarolBurnett e toda a "escola" da novacomédia americana - Steve Carell,Seth Rogen, Will Arnett, AmyPoehler, Isla Fisher) - há sempre asensação que a história é insuficientepara sustentar a invenção dasimagens. É um óptimo divertimentopara toda a família, mas enquanto,por exemplo, "Ratatui" era um pratodelicioso, "Horton" nunca passa deuma entrada que enche o olho.