Alain Robbe-Grillet, o papa do nouveau roman, morreu em Caen aos 85 anos
O escritor francês Alain Robbe-Grillet, morreu aos 85 anos de ataque cardíaco. Foi provocador até ao fim
a Alain Robbe-Grillet, considerado como "o papa do nouveau roman" e argumentista de O Último Ano em Marienbad (Leão de Ouro em Veneza 1961, de Alain Resnais), morreu na madrugada de segunda, aos 85 anos, depois de ter sido hospitalizado devido a um problema cardíaco, divulgou ontem a Academia Francesa. O escritor francês, autor de O Ciúme (ed. Portugália) e marido da romancista Catherine Robbe-Grillet, estava internado no Centro Hospitalar Universitário de Caen, onde tinha dado entrada no fim-de-semana.
Foi o principal teórico e representante do movimento literário nouveau roman (nome que foi aplicado pela primeira vez pelo crítico do jornal Le Monde, Emile Henriot) nos anos 50 e 60. Em 1963 publicou a obra Pour un nouveau roman, onde defendia uma nova forma de estruturar a narrativa, as personagens e o enredo.
O nouveau roman recusava as "narrativas lineares", colocava "a pontuação psicológica e não a gramatical" a marcar o texto literário e agrupava autores como Marguerite Duras, Claude Ollier, Nathalie Sarraute e Claude Simon. Foi com Les Gommes que Robbe-Grillet, em 1953, o iniciou em França.
Aos 85 anos, em Outubro do ano passado, Alain Robbe-Grillet ainda agitou o mundo literário francês ao publicar o seu último livro Un roman sentimental (Fayard) envolto em plástico, o que impedia as pessoas de o folhear nas livrarias.
Robbe-Grillet expunha aí fantasmas pedófilos e criminosos, chamaram-lhe "um conto de fadas para adultos", e trazia o aviso de que poderia ferir susceptibilidades: tinha cenas de pedofilia sadomasoquista.
Quando publicou La reprise, em 2001, o escritor assumiu que desde os 12 anos tinha o "gosto erótico" de gostar de miúdas e adolescentes "mais ou menos púberes".
Apesar de eleito para a Academia Francesa no dia 17 de Março de 2004, nunca fez o seu discurso em homenagem a quem o precedia, Maurice Rheims, nem nunca foi "recebido" (recusava-se a vestir aquelas vestes). Tinha espírito contestatário, escreve o Le Figaro.
Nasceu em Agosto de 1922, foi engenheiro agrónomo e graças a essa profissão trabalhou em Marrocos, na Martinica, Guiné francesa e em Guadalupe (1949-51) e só depois se dedicou à literatura. Conselheiro literário das Éditions de Minuit de 1955 a 1985, foi professor nas universidades de Nova Iorque e de Washington e dirigiu o Centro de Sociologia da Literatura na Universidade de Bruxelas (1980-88). Entre dois Tiros (com tradução de Urbano Tavares Rodrigues, na Livros do Brasil); No Labirinto (Ulisseia); Encontro em Hong Kong (Bertrand); Djinn: Uma Mancha Vermelha no Pavimento Estragado (Livros do Brasil) estão publicados em Portugal.
Também é autor e realizador de uma dezena de filmes que diz a AFP se enquadram entre "o erotismo e a investigação formal". Em Portugal teve seguidores, entre os quais Artur Portela e Alfredo Margarido.