Torne-se perito

Raridade camiliana pertenceu a D. Carlos

a O leilão que o livreiro Manuel Ferreira promove hoje no Porto está marcado para as 15h, e pouco depois dessa hora já se saberá qual o destino que levarão as cartas de Régio, uma vez que o lote correspondente será o primeiro a ser licitado na sala da Junta de Freguesia do Bonfim. Seguem-se sete cartas do médico e pintor Abel Salazar e, depois, cerca de 500 edições de livros de autores portugueses.Não é uma biblioteca muito extensa, mas revela que o seu ex-proprietário, que preferiu manter o anonimato, foi um empenhado perseguidor de raridades bibliográficas. A peça mais rara, ainda que não necessariamente a mais valiosa, será porventura um folheto de 4 páginas editado por ocasião do centenário do Marquês de Pombal, no qual Camilo assina o texto de abertura, ilustrado por uma imagem do suplício da marquesa de Távora. Tanto quanto se sabe, existirá apenas um outro exemplar conhecido, além daquele que hoje irá a leilão. O sector camiliano, com cerca de 70 espécimes, constitui, de resto, um dos conjuntos mais fortes desta colecção. Uma das peças que promete atingir licitações mais altas é Horas de Luta, editado em 1889 por Freitas Fortuna, amigo íntimo do romancista, que fez uma tiragem de apenas 32 exemplares para oferta a figuras de relevo da sociedade portuguesa da época. O exemplar que estará à venda tem a particularidade de ter pertencido a D. Carlos, que o assinou com as suas iniciais, encimadas pela coroa real. No centenário do regicídio, é bem possível que este detalhe contribua para elevar as licitações.
Os grandes leitores e coleccionadores de Camilo costumam preferi-lo a Eça de Queirós, mas o dono desta biblioteca mantinha, aparentemente, a neutralidade, já que a sua colecção queirosiana não é menos relevante. Inclui as primeiras edições dos principais romances de Eça, desde O Crime do Padre Amaro, a O Primo Basílio, Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras. E não falta, sequer, a raríssima edição original de O Mistério da Estrada de Sintra, que Ramalho Ortigão e Eça publicaram em folhetim em 1870, e editaram em livro ainda no mesmo ano. Igualmente importantes são os núcleos dedicados a Garrett - inclui o desconhecidíssimo romance popular em verso Miragaia -, Antero, Júlio Dinis, Wenceslau de Moraes, António Botto, Raul Brandão, Agustina Bessa Luís ou Eugénio de Castro, este com mais de vinte títulos, entre os quais se contam o seu primeiro livro de poemas (Cristalizações da Morte), Oaristos, de importância fundamental para a história do simbolismo português, e um exemplar de uma tiragem especial de apenas dez exemplares do livro Per Umbram.... A estes nomes juntam-se os de Régio e Torga. Do primeiro, não falta sequer o livro de estreia, Poemas de Deus e do Diabo, e o núcleo de Torga inclui quase todas as suas mais cobiçadas raridades editoriais, em alguns casos com dedicatória do autor.
Além de outras preciosidades bibliográficas, como a obra de estreia de Junqueiro, Duas Páginas dos Catorze Anos, que este publicou, de facto, com a idade que o título indica, Cripitinas, um licencioso volume de poemas obscenos atribuído a João de Deus, Livro de Mágoas, que revelou Florbela Espanca, ou ainda a raríssima primeira edição, policopiada, de um dos mais notáveis livros de Nemésio, Andamento Holandês e Poemas Graves, esta biblioteca inclui diversas edições originais de Almada Negreiros e praticamente tudo o que Pessoa e Sá-Carneiro publicaram em vida. Especialmente rara é a primeira edição de Dispersão, que Sá-Carneiro publicou em 1914 numa tiragem de apenas 250 exemplares. L.M.Q.
O leilão que o livreiro Manuel Ferreira promove hoje no Porto está marcado para as 15h, e pouco depois dessa hora já se saberá qual o destino que levarão as cartas de Régio, uma vez que o lote correspondente será o primeiro a ser licitado na sala da Junta de Freguesia do Bonfim. Seguem-se sete cartas do médico e pintor Abel Salazar e, depois, cerca de 500 edições de livros de autores portugueses.
Não é uma biblioteca muito extensa, mas revela que o seu ex-proprietário, que preferiu manter o anonimato, foi um empenhado perseguidor de raridades bibliográficas. A peça mais rara, ainda que não necessariamente a mais valiosa, será porventura um folheto de 4 páginas editado por ocasião do centenário do Marquês de Pombal, no qual Camilo assina o texto de abertura, ilustrado por uma imagem do suplício da marquesa de Távora. Tanto quanto se sabe, existirá apenas um outro exemplar conhecido, além daquele que hoje irá a leilão. O sector camiliano, com cerca de 70 espécimes, constitui, de resto, um dos conjuntos mais fortes desta colecção. Uma das peças que promete atingir licitações mais altas é Horas de Luta, editado em 1889 por Freitas Fortuna, amigo íntimo do romancista, que fez uma tiragem de apenas 32 exemplares para oferta a figuras de relevo da sociedade portuguesa da época. O exemplar que estará à venda tem a particularidade de ter pertencido a D. Carlos, que o assinou com as suas iniciais, encimadas pela coroa real. No centenário do regicídio, é bem possível que este detalhe contribua para elevar as licitações.
Os grandes leitores e coleccionadores de Camilo costumam preferi-lo a Eça de Queirós, mas o dono desta biblioteca mantinha, aparentemente, a neutralidade, já que a sua colecção queirosiana não é menos relevante. Inclui as primeiras edições dos principais romances de Eça, desde O Crime do Padre Amaro, a O Primo Basílio, Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras. E não falta, sequer, a raríssima edição original de O Mistério da Estrada de Sintra, que Ramalho Ortigão e Eça publicaram em folhetim em 1870, e editaram em livro ainda no mesmo ano.
Igualmente importantes são os núcleos dedicados a Garrett - inclui o desconhecidíssimo romance popular em verso Miragaia -, Antero, Júlio Dinis, Wenceslau de Moraes, António Botto, Raul Brandão, Agustina Bessa Luís ou Eugénio de Castro, este com mais de vinte títulos, entre os quais se contam o seu primeiro livro de poemas (Cristalizações da Morte), Oaristos, de importância fundamental para a história do simbolismo português, e um exemplar de uma tiragem especial de apenas dez exemplares do livro "Per Umbram...". A estes nomes juntam-se os de Régio e Torga. Do primeiro, não falta sequer o livro de estreia, "Poemas de Deus e do Diabo", e o núcleo de Torga inclui quase todas as suas mais cobiçadas raridades editoriais, em alguns casos com dedicatória do autor.
Além de outras preciosidades bibliográficas, como a obra de estreia de Junqueiro, "Duas Páginas dos Catorze Anos", que este publicou, de facto, com a idade que o título indica, "Cripitinas", um licencioso volume de poemas obscenos atribuído a João de Deus, "Livro de Mágoas", que revelou Florbela Espanca, ou ainda a raríssima primeira edição, policopiada, de um dos mais notáveis livros de Nemésio, "Andamento Holandês e Poemas Graves", esta biblioteca inclui diversas edições originais de Almada Negreiros e praticamente tudo o que Pessoa e Sá-Carneiro publicaram em vida. Especialmente rara é a primeira edição de "Dispersão", que Sá-Carneiro publicou em 1923 numa tiragem de apenas 250 exemplares. L.M.Q.

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