Porto = Sheffield?
O Porto está deprimido. Sheffield também estava, nos anos 80, e hoje é uma cidade nova
O Powerpoint que Tom fleming preparou para mostrar anteontem na conferência de Serralves em que foi apresentado o projecto para a criação de um cluster de indústrias criativas no Porto e Norte de Portugal era um mapa europeu em miniatura, tal o pop-up de exemplos de desenvolvimento urbano à boleia da aposta neste sector que ia revelando. Mas os olhos de muitos dos presentes acabaram por brilhar mais quando o orador se deteve a explicar um dos casos que "conhecia bem": Sheffield, anos 80. Lembram-se de Full Monty, com as suas personagens sem nada que fazer, a tentar reinventar a vida, nem que fosse fazendo sessões de strip, com nu total, para as suas mulheres?Tal como no filme de 1997, Sheffield era uma cidade aprisionada à profunda crise de indústrias tradicionais, como a metalúrgica, que, em três anos, perde 60 mil empregos, e em cujas caves e garagens, só para referir o caso da música, grupos de jovens tentam escapar a tudo isso, refugiando-se em projectos como os Cabaret Voltaire, The Humam League, ABC ou Def Leppard, cujo som explodiria para as rádios e acabaria por ditar, indirectamente, o novo rumo da cidade. Estava tudo ali, e soou a Grande Porto, mas em 2008, com a sua taxa de desemprego bem acima da média nacional e a crise nos sectores tradicionais, assumiu a directora-geral de Serralves, Odete Patrício, em declarações ao PÚBLICO.
O que veio a seguir também soou a Porto, ao Porto de desejo ainda mal esboçado nas cabeças dos presentes, mas a fervilhar de vida cultural, de entretenimento, de herança urbana preservada e reinventada - como a da fábrica transformada no Magna, o Centro de Aventura Científica, ou a garagem de autocarros transformada na Workstation, um centro de projectos de media, ambos na antiga city of steel. Memória colocada ao serviço da produção e exibição de eventos culturais, do entretenimento, da fruição do espaço público e, consequência de tudo isto, do turismo. Ou seja, de uma nova economia. Segundo Tom Fleming, Sheffield é hoje a cidade com maior taxa de crescimento do Reino Unido, com 25 mil empregos criados directamente pelas indústrias criativas, que vive até o dilema de ver os promotores imobiliários interessados em ocupar com novas edificações as zonas onde a mudança gerou, num novo desafio a pedir o equilíbrio que o consultor explica no texto ao lado.
E no Porto? "Estou consciente de que a agenda regional passa por incrementar a competitividade e a performance da economia. E isso significa, em última análise criar empregos. Empregos sustentados. E significa desenvolver um novo papel para a região numa área mais vasta, a da Ibéria, e da Europa. Uma boa parte do nosso trabalho passa por identificar as condições específicas para fazer crescer a economia cultural e criativa em cada lugar. E cada um tem o seu leque de desafios e oportunidades", explica, admitindo que, apesar de os indicadores macroeconómicos não serem "muito saudáveis" no Porto e Norte de Portugal, "a energia e a vibração são palpáveis".