Corsos são um negócio secreto, mas já representam alguns milhões de euros

Plumas, sapatos e tecidos brilhantes estão presentes num grande número de corsos carnavalescos e representam um importante negócio. As costureiras também não têm mãos a medir

a Com zés-pereiras ou figurantes acaloradas, mais abrasileirados ou tradicionalmente portugueses, com "reis" de renome nacional e internacional ou apostando nas figuras da terra. As variantes são assumidas de acordo com as tradições e vontades de cada uma das cidades portuguesas que apostam forte no cartaz de animação carnavalesca e que partilham entre si a vontade de fazer do Carnaval um motivo de atracção de milhares de visitantes. Mas há um outro factor comum à grande maioria dos corsos carnavalescos que, por estes dias, tomam conta de muitas localidades portuguesas: o negócio que gira à sua volta. As facturas emitidas pelas fábricas de calçado, comerciantes de tecidos, costureiras, artistas plásticos, entre outros, atingem montantes na ordem dos milhares de euros. Existem negócios e empresas que surgiram, precisamente, destas manifestações de folia que se vão multiplicando um pouco por todo o país. E quem as gere garante que, tal como acontece com as outras actividades comerciais, também nos desfiles de Carnaval a crise tem feito sentir-se. Não tanto na hora de encomendar. "É mais nos prazos de pagamentos", conta Pedro Mendes, um empresário de Estarreja, que há meia dúzia de anos decidiu aproveitar a brecha no negócio das plumas para se lançar no mercado. É um dos principais importadores deste tipo de adereços no Norte de Portugal e escusa-se a revelar quanto factura por força dos negócios que vai acertando com os grupos e escolas de samba. "O segredo é alma do negócio", justifica este empresário, que vai aliando o negócio do Carnaval com a organização de eventos.
Negócios em segredo
O segredo mantém-se na loja Tecidos de Coimbra, que assegura o fornecimento de grupos oriundos de "Sesimbra, Figueira da Foz, Sines, Ovar, Estarreja, Loulé, Mealhada, Funchal, entre outros", especifica Michel Santos, funcionário da casa, que há vários anos tem estado incumbido da especial tarefa de "escolher tecidos e preparar catálogos" para os organizadores dos desfiles de Carnaval.
"Percebemos que havia aqui uma oportunidade de negócio e começámos a apostar no tipo de tecidos que estes grupos querem, muito à base dos dourados e prateados", desvenda ainda Michel Santos. E qual pode ser o peso deste forte comércio de "dourados e prateados" no volume anual de negócios da casa? "São números que não posso dar", afirma. Mas, no seio dos grupos e escolas de samba, há quem garanta que a factura mais pesada é, mesmo, a dos tecidos. "São cerca de 5000 euros. Levam grande parte do orçamento", desvenda Manuela Lopes, presidente da escola de samba Vai Quem Quer, de Estarreja.
As outras despesas avultadas dizem respeito à aquisição dos sapatos. No caso desta escola, o fornecimento do calçado é assegurado "sempre por sapatarias locais" e a conta final anda na ordem dos "1800 euros". Na escola de samba Sócios da Mangeira, no vizinho Carnaval da Mealhada, também no distrito de Aveiro, surge a confirmação. "Normalmente, mandamos fazer 90 a 100 pares de sapatos de dois em dois anos, e é para aqui que vai uma parte significativa do orçamento", relata Henriques Salvador, conhecido no meio como Quito. As encomendas são sempre feitas "em fábricas do Norte do distrito de Aveiro, que é a terra do calçado", nota o dirigente da Sócios da Mangueira.
Na análise ao orçamento da escola de samba estarrejense saltam ainda à vista os custos com as cotureiras. "São três a trabalhar para nós e para cada uma são cerca de 2500 euros", revela Manuela Lopes. Os montantes dizem respeito a pouco mais de dois meses de trabalho, mas "com disponibilidade total para a escola de samba", nota a dirigente da Vai Quem Quer. Na escola de samba da Mealhada a factura relativa ao trabalho da costura é, este ano, muito reduzida. "Somos nós, elementos da escola, que estamos a fazer os fatos, sob a orientação de uma pessoa que percebe de costura", conta Henriques Salvador. Mas, há dois anos, recorda, "os gastos com a costura rondaram os 4000 euros".
E um carro alegórico? Quanto custa? Manuela Lopes faz as contas: 800 euros de material e 1.230 de mão de obra. "Este ano, não conseguimos arranjar ninguém da escola que fizesse o carro e, por isso, contratámos um artista plástico desta zona", refere a presidente da escola de samba estarrejense.
Já noutro ponto do país onde o corso carnavalesco é também uma aposta forte e motivo de atracção de milhares de visitantes, Torres Vedras, um carro custa "entre 10 a 45 mil euros", segundo revela Nélson Cunha, gestor da Guliver, a empresa que assegura a idealização e construção dos carros alegóricos do desfile local. "A empresa nasceu precisamente do Carnaval, quando um grupo de artistas plásticos se começou a juntar para fazer os carros e decidiram profissionalizar a actividade", assinala o gestor.
A empresa acabou por crescer e afirmar-se no mercado das peças decorativas e publicitárias, mas mantendo sempre a ligação às origens. "Actualmente, o Carnaval representa uma facturação na ordem dos 250 mil euros, num total de volume de negócios anual de dois milhões de euros", esclarece o gestor da Guliver.
45
mil euros é quanto pode custar um dos carros do corso de Torres Vedras. Actualmente, uma das empresas do Carnaval desta localidade tem um volume de negócios anual de dois milhões de euros.

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