Ministério Público investiga agressões à porta do estádio do V. Guimarães
Adepto esfaqueado continua internado e o suposto agressor aguarda o resultado do inquérito do MP
a O Ministério Público (MP) começou ontem a investigar os episódios graves de violência que antecederam o V. Guimarães-Benfica do passado sábado. Na sequência dos confrontos entre adeptos perto do estádio, quatro indivíduos ficaram feridos e um deles, um vimaranense de 30 anos ligado à claque White Angels, foi esfaqueado no tórax alegadamente por um adepto do Benfica, que se encontra em casa a aguardar o resultado do inquérito do MP. O presumível agressor, um homem de 22 anos, residente em Sacavém, também terá ligações a uma claque "encarnada". Foi identificado pela PSP como suspeito da agressão com arma branca, negou todos os factos e foi libertado para aguardar em casa o resultado do inquérito do Ministério Público. O ataque ocorreu perto do Topo Sul do Estádio D. Afonso Henriques, a pouco mais de meia hora do início do jogo. Segundo o auto da PSP, a vítima foi apanhada numa rixa entre adeptos dos dois clubes e, no meio da confusão, terá sofrido a facada no tórax que o levou de pronto ao hospital de Guimarães, onde continua internado e sem alta no horizonte, apesar de o seu quadro clínico não ser preocupante.
O adepto do Benfica detido pela PSP tornou-se suspeito depois de pedir protecção policial nas portas 6 e 7 do estádio, em fuga a uma "chuva" de adeptos vimaranenses que pretendiam, supostamente, vingar-se do ataque violento ao membro-fundador dos White Angels. A perseguição terá causado ferimentos no suposto agressor, mas este não quis receber tratamento hospitalar, optando por se dirigir com os polícias directamente à esquadra da PSP.
Devido à gravidade do caso, as investigações do Ministério Público deverão decorrer a velocidade cruzeiro, devendo o suposto agressor apresentar-se a tribunal ainda esta semana - e não ontem, como foi noticiado - para ser ouvido. Quando foi detido para identificação, o jovem benfiquista não tinha na sua posse qualquer arma branca.
Além da "facada", a PSP tomou no-ta de uma agressão que causou uma fractura no nariz a um presumível adepto do Benfica e um caso de um jovem de 20 anos que tentava entrar no estádio com um bastão extensível. O bastão ficou à porta, mas a conduta antidesportiva manteve-se no interior do recinto: os bombeiros foram chamados para socorrer um adepto com uma lesão num braço e outro que caiu na bancada. O indivíduo que sofreu a fractura no nariz foi transportado para o Hospital de São João no Porto. Foram ainda vandalizados alguns carros, tendo um deles ficado completamente destruído.
"Facas, ferros e tudo"Berto Guerra, líder da claque White Angels, lamentou ontem a agressão de que foi alvo Mário Seara, o homem de 30 anos esfaqueado no sábado e com quem fundou a claque vitoriana. E não se coibiu de apontar o dedo à claque No Name Boys, dizendo que o suposto agressor identificado pela polícia fazia parte daquele núcleo afecto ao Benfica.
"Eles estavam muito organizados e ficaram escondidos quase até ao início do jogo. Estavam à espera que a maioria das pessoas entrasse no estádio para atacar os que ficavam para trás. Traziam facas, ferros e tudo", afirmou, contando que "alguns envergaram cachecóis do Vitória para enganar os vitorianos". O suspeito que foi identificado pela polícia, disse, "estava com os No Name".
As duas claques alegadamente envolvidas nos confrontos em Guimarães, os White Angels e os No Name Boys, não estão registadas. Até agora, apenas nove claques completaram esse procedimento, junto do Conselho de Ética e Segurança no Desporto (CESD), que ficou com as competências do extinto Conselho Nacional contra a Violência no Desporto. São elas os Super Dragões e Colectivo 95 (FC Porto), Torcida Verde, Directivo XXI e Juventude Leonina (Sporting), Panteras Negras (Boavista), VIII Exército (Setúbal), Esquadrão Maritimista (Marítimo) e Colectivo Maravilhas (Naval). A Brigada Ultras (Sporting) e o Mosca Knights (Olivais e Moscavide) têm os processos quase finalizados.
Os incidentes em Guimarães não vão, para já, merecer uma "intervenção directa" do CESD, porque são "matéria criminal", disse ao PÚBLICO o intendente Paulo Gomes, do Gabinete Coordenador de Segurança e membro do CESD. "O Conselho poderá tirar ilações deste caso para o futuro", acrescentou Paulo Gomes, defendendo que o combate à violência no desporto exige uma abordagem "integrada" de várias entidades e que o registo das claques "é uma boa medida", mas não a "receita mágica" para acabar com o fenómeno. H.D.S.