Morreu a antiga presa política Ivone Dias Lourenço
a Morreu ontem Ivone Dias Lourenço, ex-presa política, militante do PCP e jornalista do jornal partidário Avante!. Ivone Dias Lourenço faleceu aos 69 anos, vítima de um cancro no pulmão. O funeral segue hoje às 17h da Igreja de S. Francisco de Assis para o Alto de São João, em Lisboa. Nascida a 3 de Abril de 1937, em Vila Franca de Xira, Ivone Dias Lourenço era filha de António Dias Lourenço, dirigente histórico do PCP, e de Casimira da Conceição Silva, também antiga presa política.A primeira vez que Ivone Dias Lourenço foi presa pela PIDE, em 23 de Novembro de 1957, tinha 20 anos. Ficaria em Caxias até aos 27 anos, sendo libertada em 27 de Maio de 1964.
Em conversas com o PÚBLICO, Ivone Dias Lourenço assumiu sempre como a prisão a marcou e como foi obrigada a crescer dentro dos muros da cadeia. Exemplificando a experiência traumatizante do cárcere, dizia ao PÚBLICO em 2004: "Foi um período muito importante o que estive presa. Por exemplo, quando saí, em 1964, nunca tinha ouvido Beatles."
É na cadeia que Ivone Dias Lourenço priva, ao partilhar cela, com algumas das mais importantes dirigentes e militantes comunistas e figuras da oposição, como Alda Nogueira, Sofia Ferreira, Aida Paulo, Aida Magro, Maria da Piedade Gomes dos Santos, Luísa Costa Dias, Maria Ângela Vidal Campos, Cândida Ventura, Fernanda da Paiva Tomás, Julieta Gândara.
É no contexto dessa cela que Ivone Dias Lourenço participa na redacção de umas cartas enviadas clandestinamente da cadeia de Caxias, em 1961, para serem lidas numa reunião internacional em Paris, denunciando as condições da prisão política em Portugal e que foram divulgadas pelo PÚBLICO em 2004.
Na carta, lê-se uma violenta acusação à ditadura de Salazar: "(...) Estou presa há três anos e meio (...) A infância foi sem pais - foi incompleta. (...) Mas foi preciso querer saber tanta coisa e ter de deixar a escola; querer trabalhar e não encontrar emprego; querer comer e não ter o quê. (...) A razão dos pais presos ficou clara. E passei a amá-los mais. (...) Tenho 24 anos. O resto: o noivado interrompido. O meu noivo... vê-lo não, escrever não: é proibido. Os amigos, estejam perto ou estejam longe, nem sequer podem nomear-se: é proibido."