Torne-se perito

Edelweiss A flor dos Alpes chega às floristas no Verão

Cultivam-na em jardins e centros de jardinagem, como planta ornamental. Até a criam nas montanhas para a indústria alimentar e de cosméticos. Mas, ao ar livre, só se dava a grande altitude. Até agora, graças a uma equipa de cientistas suíços.

a Adorada pelos suíços e austríacos, o edelweiss, a flor de uma das célebres canções do filme Música no Coração, gosta das alturas. Vive nos Alpes, entre os 1800 e 3000 metros de altitude. Cá mais para baixo, quem quiser apreciar a sua flor branca em forma de estrela tem de fazê-lo em jardins ou comprá-la num vaso. Ninguém conseguia fazer com que a planta da pradaria alpina sobrevivesse na planície, por isso não existiam edelweiss para vender nas floristas. Uma equipa de cientistas suíços conseguiu criar uma variedade que se dá na planície, tanto ao ar livre como em estufa. Na Suíça, já o cultivam há cerca de uma década para fins agrícolas. Embora se encontrem ao ar livre como os seus congéneres selvagens, esses edelweiss têm de ser cultivados na montanha a altitudes médias, entre 1000 e 1500 metros. São vendidos secos, para o fabrico de extractos que entram em produtos cosméticos, como loções solares ou cremes antienvelhecimento. Os suíços gostam tanto do edelweiss que até o incluem em alimentos como planta aromática, utilizando-o em licores, chás, cervejas, queijos, chocolates...
Mas a equipa de Pascal Sigg, do centro de Conthey da Estação de Investigação Agrícola Agroscope Changins-Wädenswil (ACW), pretendia trazer o edelweiss até à planície e não queria limitar-se a vê-lo num simples vaso ou nos jardins onde se imitam as condições climáticas dos Alpes, mas a enfeitar um belo ramo de flores.
"Na Europa, o edelweiss é cultivado há vários anos nos jardins como planta ornamental", explica-nos, por e-mail, Pascal Sigg, que é responsável do projecto de cultivo de edelweiss destinado à venda em floristas. "E há muito tempo que podemos comprá-lo em vasos em centros de jardinagem, por um preço que varia dos quatro aos 12 francos suíços (2,5 a 7,5 euros), conforme o tamanho da planta", acrescenta. "Como planta ornamental em vasos, é cultivado na maior parte dos países do Norte: França, Suíça, Alemanha, Áustria..." Quanto a colher plantas selvagens, nem pensar. "Tanto na Suíça como no resto dos países alpinos, como França ou Áustria, é proibido apanhá-lo na natureza."
Para responder à procura por parte da indústria e dos produtores de flores cortadas, os cientistas suíços iniciaram em 1999 um projecto de selecção de edelweiss. "Os primeiros ensaios de cultura em planície para a produção agrícola tiveram lugar em 1999 e 2000", conta Pascal Sigg, cujo centro de investigação fica a 550 metros de altitude.
Helvetia
Agora, os cientistas chegaram finalmente a uma nova variedade, que baptizaram de Helvetia. "Desde 2007 que cultivamos o edelweiss em planície, ao ar livre e em estufa, para a produção de flores cortadas", informa ainda o cientista. Para quando, então, o "edelweiss" na florista? "Espero que este Verão", responde Pascal Sigg.
Desde o início deste ano que a estação de investigação de Conthey tem em marcha um projecto que visa oferecer aos floricultores suíços novos produtos, com uma forte componente típica do país e que se centrem em plantas de origem alpina. "Os primeiros ensaios de cultura junto dos produtores começam na próxima Primavera", refere um comunicado de imprensa do ACW.
A ideia é que os floricultores suíços se demarquem da produção estrangeira de flores. "O aumento do preço da energia é igualmente um problema da actualidade. Por isso, é necessário escolher plantas pouco exigentes em calor, para reduzir os custos de aquecimento", lê-se ainda.
Símbolo dos Alpes, o edelweiss foi elogiado em várias formas de arte. Música no Coração celebrizou-o no palco e na tela de cinema, pondo o viúvo capitão austríaco Von Trapp a cantar "Edelweiss, edelweiss...", como metáfora do recomeço de vida e de resistência ao nazismo. Astérix e Obélix escalaram montes em busca desta flor, o ingrediente principal de um antídoto contra um veneno, pelo menos na história de BD.
A estrela das neves
O seu nome junta as palavras "nobre" e "branco" em alemão, mas o edelweiss é conhecido por outras designações, como "estrela das neves", "estrela dos glaciares" ou "perpétua das neves". Capaz de suportar temperaturas muito baixas e um pequeno período de exposição solar, vê as suas flores brancas - de aspecto lanudo por estarem cobertas de pequenos pêlos brancos - aparecerem entre Julho e Setembro.
Porque é que suíços e austríacos gostam tanto do edelweiss, a ponto de o escolherem como a flor nacional? "Para já, porque tem a flor branca. O facto de ser uma delicada flor branca dá logo a ideia de beleza e de muita ternura", diz a bióloga Maria Amélia Loução, directora do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. "Esta planta dá aos Alpes uma beleza espectacular, porque ficam salpicados de branco. Na Primavera, quando começam a derreter as neves e a gotejar as águas, de vez em quando aparece uma zona verde e, no meio, uma delicada flor branca", acrescenta. "As populações alpinas vêem esta planta como o ressurgir da Primavera, depois de meses de frio agreste."
Também está muito ligada ao amor, conta Maria Amélia Loução. "É uma délicatesse um rapaz austríaco ou suíço oferecer à sua amada uma flor de edelweiss. O facto de ser branca transmite a ideia de pureza e virgindade." A partir do Verão, os namorados suíços deverão ter a vida facilitada.

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