Sífilis chegou à Europa nos navios de Cristóvão Colombo
a As novas ferramentas da genética molecular ajudaram um grupo de investigadores a fortalecer a tese que responsabiliza a expedição de Cristóvão Colombo pela entrada da sífilis na Europa. O estudo filogenético usou a informação de 22 variantes humanas, uma encontrada num babuíno selvagem e três responsáveis por sífilis venérea em coelhos e debruçou-se ainda sobre o passado genético de outras formas (não venéreas) da doença no hemisfério ocidental. A sífilis transmitida por via sexual é a face mais conhecida de um grupo de infecções chamado treponema patogénico. Terá sido esta doença (transmitida por uma bactéria denominada T Pallidum) que, segundo o trabalho divulgado na revista PLoS Neglected Tropical Diseases, chegou à Europa à boleia dos navios comandados por Cristóvão Colombo.
A tripulação que partiu para a exploração do novo mundo regressou com uma má notícia a bordo, que se espalhou depressa de mais, fazendo desencadear, em 1495, a primeira epidemia registada. Era a sífilis, que, na Europa, acabaria por, consoante o país onde se estava, se chamar "mal genovês", "mal gálico", "mal português" ou até "sarna castelhana".
A equipa de norte-americanos, do Canadá e Reino Unido, liderada por Kristin Harper, do departamento de Biologia Populacional, Ecologia e Evolução da Universidade de Emory, em Atlanta, quis olhar para as rotas da doença. Para isso, sequenciou cerca de 21 regiões genéticas e outras variantes de treponemas patogénicos.
De acordo com o estudo publicado anteontem, de todas as variantes examinadas, a sífilis venérea terá sido a que teve origem mais recente. Por outro lado, a yaws (outro tipo de treponema patogénico transmitido por contacto pele e oral) encontrada no "velho continente" acabou por ocupar um lugar de raiz na árvore deste grupo de infecções, posição que indica que esta será a infecção que surgiu primeiro nas populações humanas.
"Este trabalho é a primeira tentativa de abordagem filogenética a esta questão [a polémica origem da sífilis]. Por outro lado, clarifica as relações evolucionárias entre o patogénico que causa a sífilis e as outras variantes, que causam a yaws e a sífilis endémica (transmitida pelo contacto da pele e frequentemente chamada de Bejel)", nota Harper.
Numa reacção ao artigo, a especialista Sheila Lukehart (Universidade de Washington, Seattle) aponta algumas fragilidades do estudo. Lukehart considera arriscada a interpretação evolucionária e, notando que as amostras podem ser consideradas contemporâneas, questiona o desenho da tal árvore apresentada e que aponta para "ramos" (ou seja, variantes da doença) com diferentes idades.
Na polémica sobre as origens, há quem defenda ainda que o treponema, como o homem, terá surgido no continente africano. Se olharmos para o mapa da prevalência das três variantes, África é hoje o denominador comum. A sífilis, de notificação obrigatória e associada à infecção por HIV, estará a aumentar em todo o mundo, mas as mais elevadas incidências são em África e na América do Sul.