Greve dos argumentistas abre brechas
a A paralisação dos cerca de 10.500 filiados na Guilda dos Argumentistas da América (GAA, Writers Guild of America no inglês) fez acabar o stock de novos episódios das séries norte-americanas em estreia, está a preocupar os estúdios de cinema e obrigou a criar um formato inédito para a entrega dos Globos de Ouro. Nos últimos dias, a greve, que está a entrar na décima semana de duração, mostrou novas brechas na indústria de entretenimento dos EUA.Primeiro, as dissidências entre os próprios guionistas. Na semana passada, foi a vez de o primeiro argumentista de renome criticar a estratégia da GAA. John Ridley, que escreveu o filme A Barbearia e é autor da série de tv Equipa de Resgate (já passou na RTP1), invocou um estatuto especial (financial core) que lhe permite manter a sua filiação na GAA mas não seguir as suas regras e, assim, trabalhar. Para Ridley, o impasse nas negociações com a Aliança de Produtores de Televisão e Cinema (APTC, Alliance of Motion Picture and Television Producers no inglês) configura uma situação sem vitória possível para qualquer das partes. Um grupo de outros argumentistas, autores nas telenovelas diurnas, também voltou ao trabalho sem o acordo da guilda. Matt O"Neil, um argumentista que está a trabalhar pela primeira vez para um grande estúdio, fez circular um e-mail após o cancelamento da gala dos Globos em que lamenta esta táctica e enfatiza que ela não beneficia os argumentistas e muito menos os actores que estão a iniciar carreira.
Os dissidentes não estão só do lado dos argumentistas. Depois da Worldwide Pants de David Letterman ter assinado um contrato independente com a GAA que lhe permitiu regressar ao ar com os seus argumentistas (por ter garantido o pagamento relacionado com os direitos dos guionistas sobre conteúdos transmitidos pela Internet e novos média), a United Artists fez o mesmo no cinema. E esta semana, a produtora dos irmãos Weinstein seguiu-lhe as pisadas. No meio de tudo isto, e estimando-se que a última greve da GAA, em 1988, tenha custado 342 milhões de euros ao sector, já se fazem contas ao desfalque provocado pela greve. Por semana, segundo as contas da Variety apenas relativas à televisão (só há uma série em produção em Los Angeles, October Road, da ABC), a greve está a causar perdas de 108 milhões de euros. Tirando os despedimentos a que os estúdios estão a recorrer para cortar nos seus gastos, fora os lucros perdidos pela NBC relacionados com a gala dos Globos de Ouro, além das perdas para as indústrias associadas - organizações de festas, criadores de moda (que fazem dos prémios uma montra), hotelaria e afins. O próximo capítulo desta saga são os Óscares. O Screen Actors Guild, que representa os actores de cinema e televisão, já apelou que as estrelas boicotem os 80º Óscares, a 24 de Fevereiro. Outro apelo, sexta-feira, foi o de Tom Hanks. O actor está preocupado com a proximidade
dos Óscares e pediu aos produtores da APTC que voltem "às negociações honestas para que todos possamos voltar ao trabalho". "O espectáculo tem de continuar", disse Hanks. J.A.C.