"Macaco", o bom samaritano
Há nove anos ganhava
mil euros por mês
Quando o tio morreu, em Setembro, Fernando Madureira "foi o primeiro a telefonar à prima". Há uns anos, quando ela "caiu", ele e a mulher foram "os primeiros" a abrir-lhe a porta. "Sem perguntas." O líder dos Super Dragões não é só bom primo. "É bom marido, bom filho, bom genro, bom pai", atesta a mulher, enquanto enrola o cabelo de Vitória, a filha mais nova de ambos. "O transtorno é quando saem estas notícias." Vitória ainda nem fez três anos, não percebe. Catarina conta nove, sabe ler as letras gordas que sobressaem nos quiosques. Ainda agora escreveu o jornal O Crime que "Macaco" - como lhe chamam por em pequeno andar sempre aos saltos - era um alvo tão aflito que até dormia no telhado de arma em punho. Dona Infância, a avó, ligou-lhe logo. "Que barbaridade." "Quem anda nesta guerra sabe que não tenho nada a ver com isto!", protesta ele. Cresceu na Ribeira como "um queque" que tudo tinha. Jogava a bola no Ribeirense. Por volta dos 14 anos iniciou-se com os outros nas discotecas e quase todos os fins-de-semana armavam zaragata. Dali passaram para a claque. Há 14 anos, conheceu Sandra nos Super Dragões. "Já nessa altura, quando acontecia alguma coisa a polícia andava à procura do ruço". Ela está tranquila: a suspeição que sobre ele recai "vem de ser líder da claque e de uma fase que os Super Dragões tiveram". A do "partiam tudo". Só tem pena que "não falem nas acções de solidariedade - desde dar abrigo, dar de comer, pagar aparelhos".
De onde vem o dinheiro? Há nove anos, Fernando ganhava 200 contos (mil euros) como jogador de futebol (a última equipa que representou foi o Castelo da Maia) e Sandra menos nos Correios de Portugal. Fernando abandonou o relvado e decidiu tornar-se um profissional da claque. Não se arrependeu. "Indirectamente" ganha "muito dinheiro" com os Super Dragões. Com o merchandising, com os bilhetes, com as viagens, com a visibilidade. Em 2003 tornaram-
-se sócios da Indoor Soccer de Canelas, empresa que gere dois campos cobertos de futebol. Em 2005, abriu o 12, snack bar na marginal do Douro, em homenagem ao 12.º jogador, a claque. E este ano abriu
a Rocinha, no Cubo da Ribeira. "Não tenho
nada a esconder nem a temer". A.C.P.