Presidente da CGD na primeira linha para o BCP
Santos Ferreira está disponível, reúne apoios de accionistas e é uma solução bem vista pelo Governo
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Foi o capital do BCP que ontem esteve presente na reunião com Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal
a Carlos Santos Ferreira está na primeira linha para liderar o Banco Comercial Português. O actual presidente da Caixa Geral de Depósitos reúne um vasto apoio junto dos accionistas, designadamente junto do grupo encabeçado por Joe Berardo, mas também do Estado. Santos Ferreira preenche ainda as condições sugeridas pelo Banco de Portugal sobre o perfil do novo presidente do maior banco português: não ter sido administrador executivo do BCP desde 1999. O único grão que pode surgir na engrenagem pode vir da CMVM, caso esta venha a detectar algum ilícito ao nível do Grupo BCP, dado que este foi o principal gestor da área seguradora no início da década.
Ontem os maiores accionistas do BCP foram chamados ao Banco de Portugal ao mais alto nível para se reunirem com Vítor Constâncio, como o PÚBLICO ontem noticiou. Apareceram a Eureko, o BPI (Fernando Ulrick), Joe Berardo, a Sonangol (Manuel Vicente), a EDP (António Mexia), BPP (Rendeiro fez-se representar), Manuel Fino, Moniz da Maia e CGD (Carlos Santos Ferreira). Pedro Teixeira Duarte não esteve presente por razões pessoais e Goes Ferreira, do grupo de Jardim, não foi convidado.
Constâncio, que está a investigar o BCP, recomendou aos accionistas, que no conjunto têm mais de 50 por cento do capital, que na próxima AG de 15 de Janeiro, que vai votar a nova administração para o mandato de 2008 e 2010, não apoiassem nomes de gestores que tenham estado em órgãos sociais do BCP entre 1999 e 2007. O governador justificou o seu pedido pelo facto de estar a investigar a actuação das várias administrações do BCP, pelo que todos os gestores podem estar potencialmente envolvidos em decisões ilegais. A posição de Filipe Pinhal, sucessor de Paulo Teixeira Pinto, tornou-se insustentável e o gestor retirou ainda ontem a sua recandidatura à liderança da gestão do BCP. O BdP pediu aos investidores que encontrem uma solução que possa ser apresentada na reunião magna agendada.
Intervenção de Constâncio
Com esta intervenção administrativa, pouco ortodoxa, Constâncio deixou uma mensagem: entendam-se com a maior abrangência e solidez para encontrar uma proposta que estabilize a instituição. Se falharem, haverá margem para o regulador intervir directamente. Com a sua intervenção, Constâncio deu a machada final no BCP e no modelo criado por Jardim Gonçalves e que tem vigorado.
No final da reunião os vários accionistas presentes decidiram aceitar o repto do governador de voltar a encontrar-se hoje, na sede da EDP, para decidir o que fazer. Há uma forte probabilidade de Santos Ferreira vir a ser o novo CEO do BCP, até porque já se disponibilizou para concorrer ao lugar, como o PÚBLICO on-line ontem noticiou. Mas os alinhamentos que se irão fazer ainda não são claros. Em todo caso, a eventual indicação de Santos Ferreira para CEO do BCP surge como o compromisso possível que pode juntar interesses divergentes.
Este é também um desenlace político, pois a sua indicação tem implícita a mão do Governo, designadamente, de José Sócrates. O presidente da CGD é dirigente do Partido Socialista (da linha guterrista), que passou por Macau, e a sua indicação para o BCP garante aos socialistas influência na gestão dos dois maiores bancos nacionais, com uma quota de mercado de 50 por cento.
As hipóteses de Santos Ferreiro vir a ganhar a corrida para a presidência do BCP são reais. Os accionistas nada têm contra Santos Ferreira e os institucionais, e que estão capitalizados (Eureko, BPI, Sonangol), não se oporão caso este dê estabilidade ao banco, até porque falta uma alternativa.
De qualquer modo o jogo no BCP vai começar de novo. Com esta reviravolta, Joe Berardo, Moniz da Maia e Manuel Fino conquistam uma pequena vitória. Foram os primeiros (em especial Berardo) a defender a escolha de Carlos Santos Ferreira, convite que o gestor recusou inicialmente por estar a concorrer contra o seu amigo Filipe Pinhal, com quem esteve quinta-feira à noite reunido. E tem partido de Berardo, Maia e Fino (que apoiam dois dos actuais gestores do BCP, Francisco Lacerda e Castro Henriques) a chamada de atenção para os actos de gestão irregulares que estão sob investigação.