Apito Dourado: Carolina Salgado confirma que Pinto da Costa foi avisado dos mandados de busca e detenção
Carolina Salgado prestou declarações enquanto testemunha do Ministério Público no julgamento do processo cível que Pinto da Costa moveu contra o Estado e em que reclama uma indemnização de 50 mil euros por considerar ilegal a sua detenção, realizada no Tribunal de Gondomar em Dezembro de 2004, no âmbito do processo Apito Dourado.
Questionada pela procuradora do MP se tinha tido antecipadamente conhecimento da busca à casa da Madalena, em Gaia, Carolina Salgado respondeu que sim, sem hesitar.
"Tivemos conhecimento através do advogado Lourenço Pinto, um dia antes das buscas", afirmou, acrescentando que aquele advogado telefonou a Pinto da Costa de manhã para o convocar para uma "reunião com carácter de urgência".
Já ao almoço desse dia, que contou também com a presença de Reinaldo Teles e outros, Lourenço Pinto "disse que tinha conhecimento" de que havia uma busca iminente, adiantou Carolina Salgado.
A ex-companheira do presidente do FC Porto referiu que aquele almoço serviu para delinear a estratégia a seguir, sendo certo que o empresário António Araújo não teria conhecimento de nada para "despistar as autoridades".
Lembrou que a estratégia consistia em "elaborar um plano de fuga" dela e do seu companheiro de então para Espanha.
"Nós não podíamos ficar no país", disse, acrescentando que Lourenço Pinto tinha recebido a informação da busca e da detenção através de um inspector da Polícia Judiciária do Porto, cujo nome não se recordou.
A ex-companheira de Pinto da Costa revelou ainda que o advogado Lourenço Pinto tinha conhecimentos no Ministério Público e que o seu ex-companheiro teve acesso ao processo Apito Dourado.
"Até tivemos acesso ao processo Apito Dourado, com uma capinha amarela. Foi levado por Lourenço Pinto e transportado pelo motorista do Jorge Nuno", precisou Carolina Salgado.
O juiz perguntou-lhe, depois, se conhecia bem a dimensão do processo, que já conta com 150 volumes, e Carolina disse que "já era grandinho" na altura.
"Tive a certeza (de que se tratava do original) porque mo disseram" - afirmou - e "desfiz todas as minhas dúvidas", explicando que a ideia era ter acesso às declarações de António Araújo e, a partir daí, preparar o depoimento de Pinto da Costa.
Relativamente à fuga para Espanha, Carolina referiu que dormiram no Parador de Tui, depois de Pinto da Costa ter ido a casa "buscar alguns documentos que o pudessem comprometer e ter deixado inclusive o cofre aberto para poupar trabalho às autoridades".
No dia seguinte, adiantou, o advogado de Pinto da Costa, Gil Moreira dos Santos, foi lá ter com eles para que fosse delineado o regresso a Portugal, tendo aconselhado o líder portista a permanecer em Espanha.
O advogado, que confirmou a sua presença em Tui, salientou, porém, que tinha já efectuado contactos com o Tribunal de Gondomar antes de chegar a Espanha, momento que Carolina disse não se recordar.
Segundo Carolina, ela abandonou Espanha pela auto-estrada, enquanto Pinto da Costa lá permaneceu "até receber indicação do advogado".
Carolina Salgado afirmou ainda não se recordar que o advogado de Pinto da Costa tenha sido interceptado por forças policiais na ponte velha de Valença, afirmando que apenas tinha recebido a informação de que alguns agentes da PJ poderiam ter ido à casa de Cerveira.
Nesta sessão foi também ouvido o inspector-chefe da PJ António Gomes, que considerou estranho "nada" ter sido encontrado em casa de Pinto da Costa no dia da busca.
"Não se encontrou absolutamente nada, nem um papel de um banco", disse, acrescentando estar convencido de que "os visados estavam avisados da visita" da PJ.
No final da sessão, o advogado de Pinto da Costa, Gil Moreira dos Santos, disse desconhecer qualquer aviso prévio dos mandados, afirmando ter ideia de que Pinto da Costa esteve em Espanha para se encontrar com presidente da equipa do Corunha por causa de uma possível transferência do jogador Pepe.
Relativamente ao alegado conhecimento de Pinto da Costa e de outras pessoas do processo Apito Dourado, Gil Moreira dos Santos considerou que se o que foi dito em Tribunal corresponder à verdade é muito grave e deve ser investigado.
O juiz marcou a publicação da decisão da matéria de facto para quinta-feira, às 13h30, no tribunal de Gondomar.