Rússia manda fechar delegações do British Council como "retaliação" no caso Litvinenko
Governo britânico afirma que a instituição "não é política" e "cumpre integralmente" a lei
a A Rússia vai encerrar temporariamente as representações do British Council, a instituição cultural do Governo britânico. É mais um capítulo na saga do ex-espião Alexander Litvinenko, um crítico do regime russo que no ano passado morreu envenenado em Londres. A partir de 1 de Janeiro, e à excepção de Moscovo, as delegações do British Council serão fechadas "até se chegar a um acordo entre os lados russo e britânico", anunciou ontem o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros. A medida, que afecta 15 delegações, foi justificada com a falta de registo das representações regionais, numa quebra da Convenção de Viena de 1963, adiantou a Reuters.
Um porta-voz do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, respondeu que o British Council "tem todo o direito" de operar na Rússia, como faz noutros 108 países, para promover a cultura britânica e o ensino do inglês. E que a atitude de Moscovo é ilegal e peca por incluir o British Council no dossier Litvinenko. "É uma instituição cultural e não política, e rejeitamos qualquer tentativa de a relacionar com aquilo que para nós é a incapacidade da Rússia em cooperar nos nossos esforços de levar o assassino de Alexander Litvinenko à justiça", afirmou o Foreign Office. "As actividades do Council na Rússia cumprem integralmente tanto a lei russa como internacional".
"Esta é a continuação de uma troca de medidas na sequência do assassinato de Litvinenko", considerou também o embaixador britânico Anthony Brenton. O diplomata interroga-se: "Porque é que as autoridades russas querem fazer uma coisa que vai prejudicar o seu povo?", cita a Reuters.
Contrariando a versão oficial, o mesmo acabou por ser dito pelo próprio ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov. Numa entrevista à BBC, Lavrov declarou tratar-se de uma "retaliação". "O Governo britânico teve algumas acções que danificaram sistematicamente as nossas relações e tivemos de retaliar".
"Não temos intenção de fechar nem em Ekaterinbourg [no Ural], nem em São Petersburgo, porque tudo o que fazemos na Rússia respeita os acordos bilaterais e a legislação russa", assegurou à AFP Natalia Mintchenko, porta-voz do British Council.
Desde a Guerra Fria que as relações entre os dois países não estavam tão tensas. O caso Litvinenko levou à expulsão em Julho de diplomatas russos, depois de Moscovo se ter recusado a extraditar Andrei Lugovoi, um antigo guarda-costas da KGB que as autoridades britânicas acreditam ser o autor do envenenamento por plutónio radioactivo. A Rússia respondeu na mesma moeda, expulsando quatro diplomatas britânicos; e afirma que a sua lei não permite a extradição dos seus próprios nacionais. Mas foi em 2003 que a tensão começou a subir, quando Londres recusou enviar para a Rússia o antigo oligarca Boris Berezovski, e deu abrigo a funcionários da Yukos, a petrolífera que pertenceu a Mikhail Kdodorkovski, também critico do regime de Vladimir Putin.