Portugal atingiu em 2006 os níveis mais baixos de sempre de mortalidade infantil
a A taxa de mortalidade infantil atingiu em 2006 o valor mais baixo de sempre: 3,3 óbitos em cada mil nascimentos. "Desceu uma décima de 2005 para 2006, quando se pensava que era quase impossível baixá-la ainda mais", disse ontem o ministro da Saúde, Correia de Campos.Numa cerimónia na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, Correia de Campos afirmou que a mortalidade infantil passou de 3,4 óbitos por cada mil nascimentos, em 2005, para 3,3, em 2006. Ou seja: "27 vida poupadas". Os números - já tinham sido divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, mas passaram despercebidos - são "um motivo de orgulho nacional", segundo Jorge Branco, presidente da Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal.
O especialista recorda que "há 18 ou 20 anos Portugal tinha dos piores níveis de mortalidade infantil da Europa e do Mundo". Em 198,7 era de 14,2. "Houve um esforço médico, houve um esforço de melhoria dos cuidados de saúde e houve uma melhoria das condições de vida. E por tudo isso a taxa de mortalidade infantil foi descendo."
A taxa de mortalidade infantil traduz o número de óbitos de crianças com menos de um ano de idade por cada mil nados-vivos. O gabinete de estatísticas da União Europeia, o Eurostat, já disponibilizou os dados de 2006 para 23 dos 27 estados. Só a Finlândia, a Suécia, o Luxemburgo e o Chipre apresentam uma mortalidade infantil inferior a 3,3. A República Checa tem a mesma taxa que Portugal. "Em países pequenos é mais fácil estabelecer as mesmas regras em todo o lado" e fazer o controlo da sua aplicação, nota Carlos Santos Jorge, ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Ginecologia.
Este médico recua no tempo, aos anos 80, para identificar aquele que considera ser o ponto de viragem em Portugal: "Aconteceu quando foi nomeada pelo Governo uma comissão de saúde materna que fez um trabalho notável para a eliminação de todos os cantinhos sem condições onde se paria - e eram muitos - e concentrar recursos".
Essa reestruturação, "juntamente com a melhoria das condições de vida, de alimentação e das condições de trabalho - hoje há as licenças de parto e de pós-parto - contribuem para estes números invejáveis."
A "disseminação em todo o país dos médicos de clínica geral", os "hospitais de grande qualidade" de que o país dispõe e os "excelentes neonatologistas" são outras explicações, diz Luís Graça, do colégio de Obstetrícia e Ginecologia da Ordem dos Médicos. Assim "modas como o parto no domicílio" não peguem em Portugal, espera Santos Jorge. Esta prática é corrente na Holanda, por exemplo, e não é alheia a taxas de mortalidade mais altas, afirmam os médicos. com C.G.