CIA destruiu gravações de interrogatórios a suspeitos alvo de afogamentos simulados
Prática foi classificada como tortura pelo Congresso, que prepara nova legislação para os interrogatórios
a A agência norte-americana de espionagem CIA destruiu dezenas de horas de gravações de interrogatórios realizados em 2002 a dois membros da Al-Qaeda mantidos em cativeiro pelos Estados Unidos. Os vídeos demonstravam como os dois suspeitos foram submetidos a técnicas agressivas de interrogatório, entre as quais a simulação de afogamentos, que o Congresso acaba de classificar como uma forma de tortura.Segundo o The New York Times, os vídeos diziam respeito às sessões de interrogatório de Abu Zubaydah, um reconhecido associado de Osama bin Laden, e de um outro indivíduo não identificado, capturado pela sua ligação à Al-Qaeda. Zubaydah, o primeiro detido da Al-Qaeda a ficar sob responsabilidade da CIA, foi um dos três prisioneiros comprovadamente sujeitos a sessões de waterboarding (simulação de afogamento).
Foi o próprio director da CIA, general Michael Hayden, quem confirmou e justificou a decisão de destruir as gravações, três anos depois de terem sido efectuadas, alegadamente a título de "controlo interno" do comportamento dos agentes. "Se alguma vez as gravações fossem divulgadas, permitiriam a identificação dos agentes que serviram nesse programa, expondo-os e às suas famílias à retaliação da Al-Qaeda ou outras organizações simpatizantes", declarou.
A revelação foi feita no dia em que a Câmara dos Representantes e o Senado chegaram a acordo para a aprovação de legislação para o estabelecimento de um código de conduta de interrogatórios, eliminando técnicas coercivas como o waterboarding, a nudez forçada, choques eléctricos ou o uso de cães. A Administração Bush, que tem insistido na necessidade de recorrer a técnicas agressivas nos interrogatórios de suspeitos de terrorismo, já ameaçou vetar a proposta de lei.
Ontem Hayden disse que aceitara discutir publicamente a existência das gravações no âmbito das discussões em curso no Congresso. Numa nota interna, o director da CIA sublinhou que a agência queria evitar "mal-entendidos na interpretação dos factos nos próximos dias".
Como notava o The New York Times, a destruição dos vídeos levanta uma série de questões sobre a cooperação da agência com os pedidos do Congresso e de vários tribunais, que nos últimos anos repetidamente solicitaram informações sobre o controverso programa de rendições e interrogatórios da CIA.
O director da CIA garantiu, contudo, que os membros do Comité de Serviços Secretos do Senado tinham sido informados sobre a destruição das gravações dos interrogatórios em 2005 (ontem, aquele comité decidiu abrir uma investigação sobre o assunto). A decisão foi tomada pelo director de Operações Clandestinas da CIA da altura, Jose Rodriguez Jr, e terá provocado a forte reacção do então director da agência, Porter Goss, que apenas soube do que sucedera depois de as gravações terem sido destruídas.