Câmara do Porto começou a demolir 35 casas do Bairro de São Vicente de Paulo
Vereador da CDU, Rui Sá, acusa a autarquia de terrorismo social e apela à resistência
dos moradores. Já Manuel Pizarro, do PS, irá propor a realização de um debate público
A A Câmara do Porto, através da empresa Domus Social, começou ontem a demolir 35 habitações devolutas do bairro social de São Vicente de Paulo, situado na freguesia de Campanhã, Porto. Os trabalhos decorreram de forma mais pacífica do que em Setembro de 2005, altura em que os protestos dos moradores contribuíram para travar as intenções da autarquia. Ontem, ouviram-se algumas palavras indignadas, mas nenhum tipo de protesto consistente.José António Freitas, um dos moradores, garantia que as cerca de 70 famílias que ainda restam num bairro com 201 fogos, e onde muitas casas se encontram já emparedadas, "não querem sair". "Há pessoas que estão aqui há 60 anos!", exclama. O morador reconhece que o bairro está "degradado", mas acrescenta porquê: "Porque quem está na câmara não fez nada por um dos bairros mais antigos do Porto". António Freitas desafia o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, a "dizer o que querem fazer disto".
Uma resposta que o PÚBLICO não encontrou junto de Pinho da Costa, administrador da Domus Social, que assegurou que a empresa "não dispõe de nenhuma orientação sobre o destino que vai ser dado aos terrenos". Conforme afirmou, as habitações devolutas que foram demolidas, com revestimentos exteriores em amianto, constituem "elementos sem qualquer utilidade que não seja provocar insalubridade". Pinho da Costa assegurou que, no processo de transferência das famílias, em curso desde 2005, "são sempre propostas, no mínimo, três casas recuperadas e uma delas na freguesia de Campanhã".
Já o vereador da CDU, Rui Sá, acusa a autarquia de "terrorismo social". "A câmara está a fazer demolições sem haver um projecto para o local - está a criar um clima de instabilidade social para que as pessoas
queiram sair", diz Sá, para quem, "neste momento, o que se exige é que haja uma mobilização dos moradores para resistir à decisão da câmara".
Por seu turno, o vereador do PS, Manuel Pizarro, defende que a Câmara do Porto "persiste, de modo autista, numa política anti-social". "E o que é mais repugnante é que o faça ao mesmo tempo que proclama a coesão social. Em vez de resolver os problemas das pessoas, ainda os agrava mais." Pizarro avançou ainda que os socialistas vão apresentar, na próxima reunião do executivo camarário (de maioria PSD/CDS), uma proposta para que se realize um debate público sobre o Bairro de São Vicente de Paulo.
Já o presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, Fernando Amaral, prefere revelar uma proposta para o local. "A minha posição é aproveitar a parte de baixo do bairro para as pessoas que lá vivem e, na de cima, fazer dinheiro para construir habitação nova em baixo", explicou. O autarca aproveita para criticar o caso do Bairro de São João de Deus, onde, conforme critica, "as pessoas foram enganadas, porque lhes prometeram que iam para lá viver e, pelos vistos, já estão a vender os terrenos".