Sexo e drogas envolvem assassinato de estudante inglesa em Itália
O amante, a companheira de apartamento, o seu namorado e o dono de um bar são os principais suspeitos do homicídio de Meredith Kercher, uma aluna Erasmus que estudava italiano na cidade de Perugia
a Um assassinato macabro de uma estudante inglesa em Itália, um apartamento alugado e quatro suspeitos, todos de nacionalidades diferentes e todos alegando inocência. É este o mistério que está a tentar ser resolvido pelas autoridades da cidade de Perugia que, no início de Novembro, se viram confrontados com um invulgar e brutal homicídio. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu na noite de 1 de Novembro no apartamento alugado por Meredith Kercher, de 21 anos, natural de Coulsdon (Sul de Londres) e por um ano a viver em Perugia, ao abrigo do programa europeu Erasmus. Fala-se em sexo e drogas.
Mas os factos conhecidos são estes: a estudante morreu lenta e dolorosamente e foi encontrada no dia seguinte, degolada e nua na cama do quarto, num cenário "horripilante". "O quarto estava todo desarrumado. Havia manchas de sangue por todo o lado. No chão, nas paredes", descreveu a procuradora do Ministério Público de Perugia, Cláudia Matteini, à imprensa.
Apesar de os investigadores estarem convencidos da culpa dos quatro suspeitos até agora identificados, os dois jovens que se encontram detidos desde o dia 6 de Novembro (a companheira de apartamento de Amanda e o namorado) voltaram ontem a clamar inocência perante o juiz, numa tentativa de verem as medidas de coacção alteradas.
Mas tudo joga contra eles. A polícia acredita não se ter tratado de um homicídio premeditado, mas garante estar na posse de provas que colocam todos os suspeitos na casa de Meredith na noite do crime. Motivo: "Foi provavelmente um crime de natureza sexual", admitiu, citado pela edição on line da BBC, Arturo de Felice, chefe da polícia de Perugia, cidade medieval a 100 quilómetros a norte de Roma e cujas universidades são bastante procuradas por estudantes estrangeiros.
Os suspeitos
Como Amanda Knox, de 20 anos, natural dos Estados Unidos, companheira de apartamento de Meredith e colega de italiano na Università per Stranieri di Perugia. Foi desde logo uma das primeiras a levantar as suspeitas da polícia, reforçadas depois por uma impressão digital detectada numa mancha de sangue na casa de banho e vestígios de ADN numa faca que correspondem à estudante norte-americana.
Por diversas vezes alterou o seu depoimento - o último dos quais negando ter estado no apartamento nessa noite - e justificou-o com o facto de ter fumado marijuana e não ter bem a certeza do que realmente aconteceu. Amanda Knox, ou "Foxy Knoxy" como se apelida na sua página do My Space (rede social na Internet), é descrita como uma pessoa promíscua e obcecada por festas.
"Amanda é uma pessoa que só procura o prazer e que está completamente desfasada da realidade. Mas a ideia de ser uma assassina não faz qualquer sentido", escreveu o seu namorado, Raffaele Sollecito, numa carta enviada ao pai, citada pelo The Observer.
Os investigadores estão convencidos que Amanda tentou combinar uma noite de sexo no apartamento e que foi perante a recusa da estudante de Ciências Políticas da Universidade de Leeds (Inglaterra) em participar na orgia que tudo se precipitou. Há marcas no corpo de Meredith que indiciam ter havido sexo violento, concluiu-se na autópsia.
Mas Raffaele Sollecito, um jovem italiano de 23 anos, finalista do curso de Ciências Informáticas, filho de boas famílias e de um proeminente urologista italiano, também não está em melhores lençóis. Entre a colecção de espadas e facas que guarda em casa, a polícia encontrou uma que se suspeita ter sido utilizada como arma do crime. Além disso, uma pegada de sangue no quarto de Meredith parece corresponder a um par de ténis Nike de Raffaele.
Ontem, chegou ao tribunal, tranquilo e sorridente, e voltou a garantir que passou a noite do crime ao computador na sua casa, noticiou a edição do La Reppublica. "Sou muito honesto, pacífico, querido, mas às vezes completamente maluco." Era assim que se descrevia na sua página pessoal na Internet.
Apesar de o caso estar a ser reapreciado, o procurador que conduz as investigações, Giuliano Mignini, defende que os dois jovens devem continuar detidos, em virtude do perigo de fuga e ocultação de prova.
Patrick Lumumba, um congolês proprietário de um popular bar entre os universitários de Perugia (o Le Chic) é outro dos presumíveis participantes no homícidio da estudante inglesa. Lumumba, que chegou a ser detido e depois libertado por falta de provas, foi colocado no cenário de crime por Amanda. Mas há também testemunhos que garantem que o autoproclamando neto do ex-primeiro-ministro do Congo Patrice Lumumba (informação desmentida pela família do líder africano) esteve à noite no bar. O facto de a autópsia não ter precisado a hora da morte não permite certificar se o álibi bate certo. Certo é que conhecia Meredith e trocou SMS com a vítima nessa noite, escreve The Times.
Rudy Hermann Guede, de 20 anos, um pequeno traficante de droga natural da Costa do Marfim, que terá tido relações sexuais com a vítima na noite do crime, foi o último suspeito a ser identificado pela polícia.
Guede é o único que não nega ter estado com Meredith nessa noite. Mas a versão que apresentou já foi considerada pelos investigadores como uma "fantasia altamente improvável". Ao Guardian, o seu advogado afirmou que o crime, alegadamente cometido por um homem que tinha entrado no apartamento, aconteceu quando Guede estava na casa de banho. Ao deparar-se com o corpo ensanguentado de Meredith, a quem diz ter ouvido pronunciar as iniciais AF antes de morrer, entrou em pânico e fugiu.
Um mês depois, o caso continua por deslindar e, perante a eventual necessidade de se fazer um segundo exame post mortem, os pais de Meredith Kercher ainda não conseguiram fazer o funeral da filha.