Câmaras de Serpa e Mértola contra novo campo de tiro para substituir Alcochete

Para o local onde está a ser estudada a instalação do campo militar, no caso de o novo aeroporto ir para Alcochete, está previsto um empreendimento turístico de capital espanhol

a Um representante do Ministério da Defesa esteve na segunda-feira nas câmaras de Mértola e Serpa a consultar o plano director municipal de cada um dos concelhos, com o objectivo de identificar terrenos para eventual utilização militar, numa extensa área geográfica que se estende pelos dois concelhos, na margem esquerda do Guadiana. De acordo com notícias divulgadas nos últimos dias e confirmadas à Lusa pela Força Aérea Portuguesa, um novo campo de tiro para os três ramos das forças armadas poderá vir a ser instalado entre Mértola e Serpa, próximo do Pulo do Lobo, para substituir o que o actual campo de Alcochete. As autoridades militares terão optado pelo Alentejo devido às características do terreno e à baixa densidade demográfica. O Estado-Maior da FAP revelou que a análise das opções técnicas já tinha sido entregue, no passado mês de Julho, ao Ministério da Defesa.
Apanhados de surpresa, os autarcas de Serpa (PCP) e Mértola (PS) assumem a sua total oposição à instalação da infra-estrutura militar, frisando que para o local indicado pela FAP está prevista a construção de um grande empreendimento turístico. O projecto estende-se pelos dois concelhos alentejanos, mas também interessa às vizinhas localidades andaluzas de Paymogo e Puebla de Guzmán, sendo aliás da responsabilidade de promotores espanhóis.
O presidente da Câmara de Mértola, Jorge Pulido Valente, confirmou a presença nos serviços técnicos do município de "um indivíduo que veio saber da possibilidade de serem disponibilizados terrenos para fins militares". O autarca admite que o respresentante do Ministério da Defesa traria "indicações para fazer uma avaliação do terreno", tendo em conta a "eventual instalação de um campo de treino militar" na zona norte do concelho.
Pulido Valente garante que nunca foi contacto ou sequer informado sobre esta hipótese, sublinhando que se trata de um assunto de "grande sensibilidade". De qualquer modo, deixa claro que está "totalmente contra a instalação do campo de tiro" no seu concelho, explicando que está em preparação um projecto turístico "precisamente" para os terrenos pretendidos pelos militares.
Também o presidente da Câmara de Serpa, João Rocha, assume a sua forte oposição à ideia do campo de tiro. "O que nós precisamos é de empregos e não de bombas a cair na serra de Serpa e de Mértola", observa o autarca, acrescentando que "até agora" ninguém o contactou.
João Rocha diz que está neste momento em curso a construção de uma estrada em direcção a Espanha - que atravessa o território onde pode vir a ser instalado o campo de tiro -, custeada pela autarquia de Serpa, e que o ayuntamento de Paymogo e a Junta da Andaluzia têm a seu cargo a construção uma ponte sobre o rio Guadiana.
O Regimento de Infantaria nº3, sedeado em Beja, administra há vários anos um campo militar em Mértola, com 439 hectares, para a realização de exercícios do Exército.
"Prematuras" é como o Ministério da Defesa qualifica as notícias que dão como certa a instalação de um campo de tiro no Alentejo, no caso de o novo aeroporto ir para Alcochete. "Não temos nenhuma localização específica. Estamos apenas a equacionar cenários possíveis", frisou um porta-voz do ministério, acrescentando que "não há quaisquer decisões tomadas". Preferindo não comentar eventuais deslocações às câmaras de Serpa e Mértola, sublinhou que nada será decidido antes de confirmada a localização do futuro aeroporto. C.P.

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