FBI conclui que Blackwater não tem justificação para mortes no tiroteio de Bagdad
O novo procurador-geral dos EUA deve decidir se os guardas da empresa de segurança serão julgados
a Pelo menos 14 das 17 mortes causadas pelo tiroteio em Bagdad de guardas da empresa de segurança privada Blackwater em Setembro foram injustificadas, concluíram os agentes do FBI que estão a investigar o sucedido. Os guardas pensaram estar a ser atacados por ouvirem os seus próprios tiros, e começaram a disparar contra toda a gente que passava na Praça Nisour, dizia ontem o jornal The New York Times.A investigação do FBI ainda está a decorrer, mas os primeiros dados foram já encaminhados para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. E determinar se há material para mover processos contra os guardas da Blackwater pode ser uma das primeiras tarefas do novo procurador-geral Michael Mukasey, empossado na semana passada.
Muitos analistas têm expressado dúvidas sobre a possibilidade de trazer perante a justiça guardas destas empresas, que asseguram funções vitais que o exército já não cumpre. Por exemplo, garantir a segurança do pessoal diplomático no Iraque, como a Blackwater. Estes guardas armados actuam numa espécie de limbo legal. Não são abrangidos pela justiça militar, mas a lei civil também não os responsabiliza.
A actuação destes seguranças fortemente armados - que não gostam de ser chamados mercenários, mas que actuam como tal - criou fortes anticorpos no Iraque, onde os cidadãos os confundem com os soldados regulares. E por causa dessa confusão, e da fama de cowboys, por se envolverem em muitos actos de violência gratuita e mortes, os seguranças privados também não são bem vistos pelo exército.
E isto não se passa só no Iraque. Um estudo do instituto de investigação Swisspeace (na Suíça) adianta que, no Afeganistão, há cada vez mais empresas de segurança privada.
"O principal problema é que ninguém guarda os guardiães", comenta Susanne Schmeidl, uma das autoras do estudo, citada pela Reuters. Essas empresas chegam a contratar milícias armadas inteiras. É opinião corrente entre os afegãos que estas firmas estão envolvidas até em assaltos a bancos em Cabul.
Com a progressiva privatização de serviços militares nos últimos dez anos, os exércitos de mercenários são cada vez mais comuns, conclui um relatório das Nações Unidas apresentado na semana passada.
Muito bem armados, os guardas destas empresas não são nem civis nem militares. Representam uma nova variedade de mercenários, que pode ser designada como "combatentes irregulares" - uma expressão já de si bastante nebulosa, reconhece o grupo de trabalho sobre o uso de mercenários.