Guionistas de Hollywood, a greve de um milhar de milhão de dólares

O argumento que está abalar a indústria audiovisual americana pode
durar até Fevereiro. Como nos reality shows, o final não está escrito

a Argumentista e apresentador, Spike Feresten enfrentava ontem um dilema impossível de resolver: "Como é que faço greve ao meu próprio programa?", perguntava. Antigo produtor e guionista da aclamada série de humor Seinfeld, apresenta (e escreve) actualmente o seu próprio talk-show, na cadeia de televisão Fox. É um dos 12 mil argumentistas norte-americanos que ontem entraram em greve, exigindo receber direitos pelas vendas em DVD e nos novos media.Feresten deverá ter uns bons meses para tentar dar a volta ao seu dilema. A última paralisação dos guionistas, em 1988, durou 22 semanas, os estúdios perderam 500 milhões de dólares e a audiência das televisões nacionais baixou seis por cento. Desta vez, as previsões são para uma paralisação de três a quatro meses, segundo o Los Angeles Times. E o prejuízo deverá ser o dobro do de há 19 anos: mil milhões de dólares (689 milhões de euros), disse à Reuters o economista Jack Kyser.
A greve começou à meia-noite, hora de Nova Iorque, quando na Califórnia ainda decorria uma última reunião entre a Writers Guild of America (WGA) e a Aliança dos Produtores de Cinema e de Televisão (AMPTP). Três horas depois, Hollywood seguia a Costa Leste. E, ontem, em Nova Iorque e em Los Angeles, milhares de argumentistas repetiam, na rua, a mesma deixa: "Não há contrato, não há drama."
Em Nova Iorque, a manifestação decorreu em frente ao Rockefeller Center, a sede da NBC. Em Los Angeles, decorreram junto às sedes de 14 estúdios de cinema e de televisão, incluindo os da Walt Disney, Warner, Paramount, CBS, ABC e Fox.
"A nossa posição é simples e justa. Quando o trabalho de um autor gera lucros para as companhias, esse autor merece ser pago", diz Patrick Verrone, um dos dirigentes da WGA, citado pelo Hollywood Reporter.
Os estúdios respondem com dureza: "Nas últimas reuniões, a guilda não aceitou compromissos quanto às suas principais exigências. Lamentamos que tenham escolhido esta acção irresponsável", diz Nick Counter.
A economia explica a irredutibilidade das duas partes. As vendas anuais de DVD representavam, em 2005, 18.000 milhões de dólares, segundo a Business Week.
Num cenário de aumento constante dos custos de produção, a reexploração dos filmes e das séries, em DVD, na Internet ou em reposições televisivas é vital para o negócio dos estúdios, explica a mesma publicação. Por isso, é uma área de que os grandes estúdios não quererão abrir mão.
Os estúdios defendem-se
Por outro lado, a televisão, que será muito mais afectada por esta greve do que o cinema, só é a principal fonte de receita para uma das quatro grandes empresas de media norte-americanas, a CBS. Os estúdios sentem-se prontos a responder ao ataque dos argumentistas e estarão pouco dispostos a ceder, uma vez que os realizadores e os actores poderiam avançar com reivindicações idênticas às dos guionistas.
E se os prejuízos este ano prometem ser muito maiores do que há 19 anos, na indústria há quem acredite que a greve pode ter efeitos colaterais positivos. Economicamente positivos.
Segundo o Los Angeles Times, se a greve se prolongar até Fevereiro, ou seja, até meio da temporada televisiva, a época dos programas-piloto pode ser seriamente afectada. Esta época é o período de três meses em que os estúdios ensaiam dezenas de episódios experimentais, que poderão dar origem a novas séries de televisão ou ir parar ao caixote do lixo.
No total, os grandes estúdios gastam uma média de 400 milhões de dólares por ano em pilotos e um destes episódios experimentais pode custar mais de sete milhões. "Talvez a greve nos dê uma desculpa para mudar isso", disse recentemente o presidente da Fox Entertainment, Kevin Reilly.
Chris Coelen, presidente do grupo britânico RDF Media nos Estados Unidos, pensa que esta greve obrigará os estúdios norte-americanos a comprar mais produtos. "A greve pode ser má para a indústria, mas poderá levar as pessoas a pensar de forma mais criativa e a procurar outras alternativas", disse.
22
semanas foi o tempo que durou a última greve dos guionistas de televisão e de cinema norte-
-americanos,
em 1988

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