No passado 2 de Novembro de 1960
Os relatos da imprensa britânica da altura lembram os dias de lançamento de um novo Harry Potter: livros a esgotar num abrir e fechar de olhos, filas de gente nas livrarias, centenas de pedidos.Estava-se em 1960, 31 anos depois de D.H. Lawrence ter escrito O Amante de Lady Chatterley: foi preciso esse tempo todo para deixar de ser um livro maldito, e proibido, na Grã-Bretanha, por causa do sexo explícito e da linguagem "vulgar" (e, muito provavelmente, pela forma como Lawrence misturava sexo e condição social numa história adúltera entre uma lady e um caseiro). Em 1955, um livreiro do SoHo passou dois meses na prisão por vender O Amante de Lady Chatterley.
A Penguin Books decidiu publicar a primeira versão integral do livro em Maio de 1960, num teste à nova lei das publicações obscenas, de 1959, que autorizava livros tidos como obscenos desde que se provasse que tinham méritos literários e contribuíam para "o bem público". O julgamento que decorreu entre o final de Outubro e o início de Novembro de 1960, colocando a Penguin no banco dos réus, foi um marco histórico. A acusação contabilizou os palavrões mas não conseguiu igualar os 35 "peritos" que a defesa convocou para testemunhar a favor de Lady C (nome que os britânicos dão ao livro), entre eles figuras literárias eminentes, como E. M. Forster ou C. Day Lewis (T.S. Eliot também estava na lista, mas nem chegou a ser chamado). A 2 de Novembro, a Penguin era ilibada: 30 anos após a morte de Lawrence, o livro integral podia ser finalmente publicado no seu país natal. 200 mil exemplares foram vendidos no primeiro dia, dois milhões no primeiro ano. Hoje o paperback da Penguin tem uma BD mordaz na capa. Lady C já não assusta. K.G.