Palavras racistas de James Watson recebidas com chuva de críticas
Palestra do cientista norte-
-americano foi cancelada na Grã-Bretanha e o laboratório onde trabalha emitiu um comunicado de reprovação
a A declaração de James Watson de que os negros são menos inteligentes do que os brancos tiveram as primeiras consequências. Proferidas antes de uma viagem à Grã-Bretanha para promover o último livro, mal Watson chegou a solo britânico, na quarta-feira, o Museu de Ciência de Londres cancelava a sua palestra, prevista para hoje. E o Laboratório de Cold Spring Harbor, nos EUA, onde Watson se mantém como figura tutelar, disse que "discorda veementemente dessas declarações".Ao jornal The Sunday Times, Watson teceu considerações sobre o "futuro sombrio de África": "Todas as políticas sociais se baseiam no facto de a inteligência deles ser igual à nossa, quando todas as provas mostram que não é bem assim." Disse ainda: "As pessoas que têm de lidar com empregados negros sabem que isto [toda gente ser igual] não é verdade."
Tais afirmações desencadearam uma chuva de críticas. Anteontem à noite, o Museu de Ciência decidia: "Os cientistas eminentes dizem por vezes coisas que causam controvérsia e o museu não foge do debate de assuntos controversos", disse uma porta-voz, citada pela BBC. "Porém, achamos que o dr. Watson ultrapassou o debate aceitável, pelo que vamos cancelar a sua palestra."
Também o laboratório americano salienta, numa nota, que as declarações "de forma alguma reflectem a missão, os objectivos e princípios do conselho de administração do laboratório", acrescentando que "discorda veementemente dessas declarações e está estarrecido e entristecido, se de facto as fez". "O laboratório não tem qualquer investigação que possa servir de base às declarações atribuídas ao dr. Watson", esclarece-se ainda.
Entre vozes críticas está a do director do Instituto de Neurociências Cajal, em Espanha. "Não há qualquer ligação entre os genes envolvidos na cor da pele e os genes das funções intelectuais. A ligação entre a cor da pele e as capacidades cognitivas não está fundamentada nem há razões para suspeitar que exista uma", frisou Alberto Ferrús, ao diário El País.
Watson, de 79 anos, é um dos premiados com o Nobel (1962) pela descoberta da estrutura do ADN. Mas os cientistas que comentam as suas afirmações dizem ainda que nem sequer se conhece a base genética da inteligência. De certa forma, veiculou-se essa mensagem quando se sequenciou o genoma humano, em 2001. O genoma não tem raça, disse-se. Somos todos iguais, pelo que variações genéticas como as da cor da pele, além de residuais, reflectem tão-só uma adaptação ao ambiente.
Nas outras palestras marcadas na Grã-Bretanha, como é que Watson será recebido?