Concretamente, sai ao caminho do nosso homem uma "musa" (a suíça Irène Jacob, ex-kieslowskiana) de natureza misteriosa e inexplicada. "A Vida Interior de Martin Frost" é uma fantasia romântica sobre a criação literária enquanto processo de confluência de mundos reais e mundos mentais, um pouco como um filme de Raul Ruiz mais austero na invenção de labirintos e mais (muito mais) parcimonioso no uso de bagagem referencial.
Uma bonomia consciente da sua irrelevância é só o que parcialmente o redime, porque "A Vida Interior de Martin Frost" é bastante fraco - "mise-en-scène" banalíssima (e com uma moleza de telefilme), personagens sem força nem presença ( justamente o que Auster melhor conseguira em "Lulu on the Bridge"), uma inconsequência resolvida a golpes de desesperada irrisão (a meia-hora final, a partir da chegada de Michael Imperioli). Nem o texto nem os diálogos, nem sequer a narração "off" (bastante convencionalmente empregue) conseguem redimensionar seja o que for. Não será por isto que nos lembraremos de Paul Auster e, como dizia a crítica Manola Dargis no "New York Times"(ao que parece para grande irritação do escritor), "quanto menos se falar deste filme melhor".