Pavarotti Para Sempre
A 12 de Outubro de 2007, Luciano Pavarotti celebraria 72 anos. Para recordar uma das mais belas vozes do século XX, o PÚBLICO lança uma colecção com três óperas interpretadas pelo tenor. Trata-se de uma edição em CD duplo de Lucia di Lammermoor (de Donizetti), e em DVD de La Bohème (Puccini) e de Aida (Verdi). Cada volume inclui ainda um livro com o libreto da ópera (versão original e tradução em português), um ensaio e sinopse do argumento, e um texto dedicado a Pavarotti. 1.º volume, Lucia di Lammermoor, de Donizetti amanhã com o PÚBLICO
a Irrepetível. Assim se pode classificar, numa palavra, a gravação da ópera Lucia di Lammermoor, de Donizetti, incluída no primeiro volume da edição comemorativa Pavarotti Para Sempre. Registada há 40 anos em Turim, reúne Renata Scotto (Lucia di Lammermoor), Luciano Pavarotti (Edgardo di Ravenswood) e Piero Cappuccilli (Lord Enrico Ashton). Dos três, apenas Renata está viva, mas desde 2002 está afastada dos palcos.Pavarotti, que morreu no passado dia 6 de Setembro, é considerado um dos intérpretes mais fascinantes de Edgardo e, segundo especialistas, a sua actuação supera a de outros grandes tenores, como Alfredo Kraus e Carlo Bergonzi. "Na cena final é exemplar pela facilidade e pelo brilho vocal, pela perfeição da linha do canto e pela claridade e nobreza do fraseado", explica Roberto Andrade no livro que acompanha o CD duplo.
Por sua vez, a interpretação de Renata é colocada a par das duas maiores Lucias do século XX - Maria Callas e Joan Sutherland. Segundo Andrade, "superou esta última na dicção do texto, que é perfeita, na intenção do fraseado e na profundidade com que traça a personagem (embora sem alcançar (...) a inacessível Maria Callas); e não ficou muito atrás da cantora australiana em perfeição vocal." Entre as suas passagens, o dueto de amor com Edgardo é uma das mais memoráveis.
Quanto a Cappuccilli (falecido em 2005), há quem defenda que a sua voz de barítono se adequava melhor a compositores como Verdi. Mas, na opinião de Roberto Andrade, "nenhum Enrico da discografia actual possui o esplendor tímbrico, a potência vocal e o brilho nos agudos que Cappuccilli possui nesta gravação." Além disso, a crueldade da sua personagem é acentuada pelo fraseado nobre, que o barítono usa com uma dicção exemplar.
Este excepcional trio de cantores é, ainda, acompanhado pelo maestro Francesco Molinari-Pradelli e pelo Coro e Orquestra da RAI de Turim e por um elenco onde se destacam igualmente os desempenhos de Agostino Ferrin (Raimondo) e Gianfranco Manganotti (Arthuro).
Com libreto de Salvatore Cammarano, Lucia di Lammermoor é um dramma tragico em três actos que se baseia no romance histórico The Bride of Lammermoor, de Sir Walter Scott. A acção centra-se em Lucia, uma jovem que pertence à família Ashton e cujo irmão mais velho, Enrico, quer forçar a casar com Lord Arthuro Bucklaw. Em causa está salvar o clã Ashton da decadência, devido a ameaças de forças políticas e religiosas. Porém, Lucia está apaixonada por Edgardo, último sobrevivente dos Ravenswood e inimigo mortal de Enrico.
Ficha técnicaMaestro - Francesco Molinari-Pradelli
Intérpretes - Renata Scotto, Luciano Pavarotti, Piero Cappuccilli, Agostino Ferrin, Gianfranco Manganotti, Franco Ricciardi, Anna di Stasio
Orquestra e coro - RAI de Turim
Local de gravação - Turim
Ano - 1967
a Considerada um dos pontos altos do bel canto, Lucia di Lammermoor é a mais célebre ópera do compositor italiano Gaetano Donizetti. Natural de Bérgamo, onde nasceu a 29 de Novembro de 1797, Donizetti revelou desde cedo vocação musical e em 1806 começou a frequentar as Lezioni Caritatevoli do compositor alemão Johann Simon Mayr. O seu talento foi de imediato reconhecido por Mayr, que o ajudou a ser admitido, aos 18 anos, no Liceo Musicale de Bologna. A sua primeira ópera, Il Pigmalione, foi composta em 1816, mas a primeira estreia só aconteceu dois anos depois - Enrico di Borgogna, em Veneza. Em 1823, Roma recebeu a sua quarta ópera, Zoraida di Granata, e os elogios da crítica possibilitaram-lhe um contrato em Nápoles com o empresário teatral Barbaja. Quando se tornou maestro di capella no Teatro Carolino de Palermo (Sicília) em 1825, Donizetti era já famoso e, cinco anos depois, Anna Bolena permitiu-lhe a consagração internacional definitiva. Lucia di Lammermoor, por sua vez, estreou-se em 1835 no Teatro San Carlo de Nápoles. A sua fama continuou a aumentar até 1843, quando lhe foi diagnosticado sífilis. A morte chegou cinco anos depois.