Torne-se perito

Responsáveis políticos e religiosos repudiaram profanação de campas judias

a No cemitério israelita de Lisboa juntaram-se ontem vários responsáveis políticos e religiosos numa cerimónia que pretendeu ser de "repúdio" pelo acto de profanação de campas judias por neonazis no mês passado.O acesso às campas de 17 famílias que na noite do dia 25 de Setembro foram marcadas com cruzes suásticas foi limitado a alguns responsáveis religosos e representantes do Governo. As sepulturas estavam tapadas por panos brancos onde repousavam velas acesas.
Segundo o presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, José Oulman Carp, tratou-se de membros "do grupo mais radical neonazi, os Hammerskins". O responsável elogiou Portugal como um dos países mais democráticos da Europa, mas lembrou que actos como aquele relembram "a parte mais dramática da história do povo judeu: "A Inquisição, as expulsões, o Holocausto." Terminou a sua intervenção com um apelo: "Que se faça justiça."
"Hoje todos somos judeus", disseram logo a seguir tanto o ministro da Justiça, Alberto Costa, como o ministro da Administração Interna, Rui Pereira.
Alberto Costa deixou a sua "solidariedade" por um acto que considerou ser "um ultraje" e garantiu que se está "a perseguir criminalmemte os responsáveis". "Nunca podemos dar sinais da barbárie como definitivamente extintos", acrescentou.
Rui Pereira afirma que as forças de segurança servem para reprimir mas também para proporcionar espaço de liberdade religiosa. "Este atentado não ficará em claro."
A lembrança das perseguições dos judeus esteve presente em quase todas as intervenções, assim como o perigo do reavivamento do anti-semitismo. "Este foi um gesto que invocou um demónio que dorme no coração da Europa", disse o padre Peter Stilwell, como representante do Patriarcado de Lisboa, reforçando a necessidade de haver na capital um monumento que relembre a violência de que foram alvo os judeus na história portuguesa.
O alto-comissário para a imigração e minorias étnicas, Rui Marques, escolheu também o termo "demónio" quando disse que "este demónio não está extinto e o desafio da tolerância não é uma batalha ganha".
O embaixador de Israel em Portugal, Aaron Ram, afirmou que ao dar publicidade a este tipo de actos se pode estar a dar publicidade ao anti-semitismo. Viu o acto "como um aviso", não "por sentir perigo em Portugal", mas por pensar que é preciso afastar "sentimentos de falsa segurança".
Ester Mucznik, vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa e membro da Comissão da Liberdade Religiosa, disse à margem dos discursos que "espera que este acto inédito seja isolado" mas que "não deve ser desvalorizado o acto de inscrever uma suástica em campas, um acto de características assumidamente anti-semitas".
Estiveram presentes deputados dos vários grupos parlamentares, assim como representantes de várias confissões religiosas. O presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, Mário Soares, foi o único membro deste órgão que não esteve presente.
No final da leitura dos discursos seguiu-se uma curta cerimónia religiosa onde foi lida uma "oração para os falecidos cujos túmulos foram profanados".
Numa carta aberta divulgada na Internet, o líder dos Portuguese Hammerskins, Mário Machado, apelou a todos os nacionalistas para que não esqueçam o nome da magistrada do Ministério Público, Cândida Vilar, que o impediu de sair do presídio por excesso de prisão preventiva.

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