Febre de sábado à noite pré-adolescente
Tem centenas de milhões de jovens fãs em todo o mundo e é uma máquina de fazer dinheiro. Hoje estreia High School Musical 2, a sequela do filme que deu novo fôlego ao musical
a Um telefilme com miúdos liceais norte-americanos que só passa num canal de cabo pago, musical e em inglês é o mais recente fenómeno de popularidade global entre os tweenies - os miúdos com idades entre os 8 e os 14 anos. E Portugal não foge à regra. Esta noite estreia High School Musical 2 e pelo país há grupos de miúdos já a planear festa e visionamentos em conjunto para assistir a um filme musical que é uma fábrica de captar audiências e de fazer milhares de milhões. High School Musical e a sua sequela, que hoje estreia no Disney Channel (canal cabo), são blockbusters televisivos e quem tenha filhos ou irmãos mais novos naquelas idades provavelmente já teve um contacto, pelo menos ao de leve, com esta febre. Na escola de Beatriz Amaral, de dez anos, e na escola de Beatriz Caetano, de 13, "toda a gente sabe o que é o High School Musical". Zac Ephron, Vanessa Hudgens e Ashley Tisdale são os miúdos mais populares das escolas dos Estados Unidos, do Reino Unido, de Portugal, Espanha, Alemanha, América Latina e mundo geral. Muito tweenies podem ou não gostar do musical, mas ele faz parte da sua paisagem cultural. Nomeadamente na Internet, onde alimentam dezenas de blogues em português, como o high_school_fans.blogs.sapo.pt de Beatriz Caetano, e milhares noutras línguas, visitam os sites dos canais Disney de todo o mundo ou colocam vídeos cantados feitos por si e inspirados no filme no YouTube.
Tem os ingredientes básicos para ser um sucesso adolescente e pré-adolescente: uma intriga simples, passada num liceu, protagonistas bonitos e de várias etnias, bom guarda-roupa, boa banda sonora e até o casal principal está unido na vida real. E gerou um novo mega-ídolo: Zac Ephron, que a revista Time chamou "o miúdo mais giro de sempre", fruto de uma casta especial de ícones americanos. É bem comportado, tem o cabelo à tigela e não se mete em grandes confusões, ao contrário das starletts de Hollywood e da música como Lindsay Lohan ou Britney Spears - que, contudo, também emergiram para o estrelato com a mesma imagem de quem não faz mal a uma mosca.
Um mundo para lá da TV
Até a má da fita é uma das personagens favoritas dos fãs. Ashley Tisdale, aliás Sharpay, a loira que tenta roubar o protagonista à sua namoradinha, a tímida Gabriella, interpretada pela actriz Vanessa Hudgens, é uma vilã adorada. A actriz já participava noutra série do Disney Channel, Hotel Doce Hotel, e segundo Isabel Caetano, mãe de dois fãs do High School Musical, "não faz verdadeiras maldades". A filha Beatriz, de 13 anos, comenta que "a maldade dela dá muita graça ao filme".
Beatriz Amaral, de dez anos, atesta a sua preferência por Sharpay, "uma actriz com muito jeito para filmes destes e para fazer papéis de má", e sustenta as suas afirmações num caderno em que anotou os motivos porque gosta do filme, junto ao livro com as letras das músicas que acompanha o seu CD do High School Musical. É que os filmes de orçamento modesto, são também uma fórmula infalível de fazer dinheiro. Há livros, CDs, DVDs, revistas especiais, espectáculos de dança no gelo, peças teatrais e um jogo de karaoke para consola, a lançar em Novembro. A máquina de marketing e produtos associados já terá rendido entre 500 milhões de dólares (360 milhões de euros) e um milhar de milhões de dólares (720 milhões de euros). Só o DVD do filme inicial vendeu 7,8 milhões de cópias e o CD outros sete milhões.
A expectativa em relação a este segundo High School Musical, que segue os passos dos seis actores principais no Verão, depois de um primeiro filme que acompanhava o ano escolar, é grande. É tempo de férias, no clube de campo do pai de uma das protagonistas, Sharpay. Os fãs andam ansiosos e isso vê-se na Internet. O site do Disney Channel em Portugal tinha, em média, 1,5 milhões de page-views por mês. Em Julho já eram três milhões e em Agosto cinco milhões, uma parte importante dos quais para os conteúdos do HSM2. "O crescimento exponencial das visitas e da tentativa de saber mais por parte dos mais novos" não espantou Patrícia Reis, directora de marketing do canal, que usa uma palavra para qualificar a estreia europeia, em Londres: "histerismo". "Os protagonistas estavam lá e havia desde miúdas de quatro anos a adolescentes a gritar".
Campeão de audiências
O primeiro filme foi visto por 170 milhões de espectadores em todo o mundo e, em Portugal, na estreia estavam 600 mil pessoas a ver o Disney Channel, que tem cerca de 150 mil assinantes no país. Quando passou na SIC, no Natal passado, teve uma audiência de cerca de 2,5 milhões de espectadores, segundo Patrícia Reis. Por isso mesmo, e porque o segundo filme foi o mais visto de sempre da televisão por cabo norte-americana, com 17,2 milhões de espectadores em Agosto passado, no Disney Channel português todos estão "muito confiantes no sucesso deste filme".
O segredo do sucesso reside numa fórmula que junta um protagonista "giro, o que é suficiente para elas", opina Tânia Reis, directora da edição portuguesa da revista juvenil Bravo, mas também, segundo lhe disse o realizador Kenny Ortega em Londres, "a história, que é bastante positiva e um pouco irreal, mas que dá força e ânimo às pessoas". É nesta tónica que insiste Beatriz Caetano, corroborada pela mãe. "O filme passa bastante energia e faz lutar pelos sonhos e nunca desistir. A música dá ainda mais energia". É uma espécie de Serenata à Chuva versão adolescente do século XXI.
E não é só às raparigas que o filme toca. Os rapazes também se sentem atraídos pelo filme, como é o caso do irmão de Beatriz Caetano, Guilherme, de nove anos, que vem ao quarto da irmã para dizer que também gosta do filme, sobretudo "do jogo de basquetebol" e de ver "todos a cantar". O realizador dos filmes atesta exactamente que o factor desporto, basquetebol no primeiro filme, e o golfe e o basebol no segundo, foram incluídos para apelar a um público mais vasto.
Ainda assim, como dizem as duas Beatrizes, as raparigas são o grosso dos fãs. São "80 por cento raparigas", com idades dos 8 aos 20 anos, que pedem mais e mais sobre a turma de High School Musical à Bravo, explica Tânia Reis, o que foge ao público-alvo da revista, que são as raparigas com idades entre os 12 e os 14 anos.
O filme é bem aceite pela família, pelo facto de ser "limpo", como descreve Patrícia Reis, que está convicta de que na estreia do primeiro filme, "quem carregou no botão foram os irmãos mais velhos". "As audiências do canal são muito superiores ao que é habitual no canal na faixa etária dos 15-24 anos".
Depois, como foi em casa dos Caetano, em Sacavém, há um fenómeno de arrasto e os mais novos também se sentam a ver, a cantar e a dançar. É que o facto de o filme ser em inglês não ofusca a linguagem universal da música para os mais pequenos ou menos ágeis a ver as legendas. "Até a minha avó, de 65 anos, gostou" e viu o filme com os netos, conta Beatriz.
E há quem diga que este é o filme que vai salvar o género musical. William Strauss, autor do livro Millennials and the Pop Culture, disse ao jornal britânico The Times que esta geração está a alimentar-se de musicais desde que tem idade para ver televisão. "Pense-se no que eles têm andado a ver" desde pequenos, referindo-se aos DVD de A Pequena Sereia ou do Rei Leão. Cresceram com musicais e isso nota-se quando chegam à adolescência. Entretanto, a Disney já licenciou cerca de duas mil versões de High School Musical para teatro amador e escolar, ao mesmo tempo que o telefilme ganhou dois Emmy, para melhor programa infantil e melhor coreografia,
e o prémio Billboard para melhor banda sonora.