Dois jesuítas foram os primeiros ocidentais a chegar ao Tibete
Foi em 1624 que dois padres saídos de Portugal "descobriram" a nação dos Himalaias. Dois livros acabados de sair ajudam a compreender a velha relação entre Portugal e o Tibete
a Em 1624, dois padres jesuítas portugueses, António de Andrade e Manuel Marques, foram os primeiros ocidentais a chegar ao Tibete. Ali encontraram uma expressão religiosa que pensaram, inicialmente, seria uma forma de cristianismo entretanto desvirtuado.A viagem constituiu o primeiro episódio de uma relação mútua entre Portugal e o Tibete. Até hoje, no entanto, limitada a pequenos acontecimentos ou à atracção de alguns escritores e pensadores por aquele país oriental ou pelo budismo que ali predomina.
É sobre este diálogo presente e ausente que acabam de ser publicados dois volumes importantes: a Revista Lusófona de Ciências das Religiões dedica o seu último número (apresentado publicamente quinta-feira passada) ao título O Budismo - Uma Proximidade do Oriente. E o livro O Buda e o Budismo no Ocidente e na Cultura Portuguesa (edições Ésquilo) procura analisar algumas influências e relações entre aqueles dois mundos.
Os jesuítas procuravam o mítico Cataio, o reino cristão que teria sobrevivido para lá dos Himalaias. Dois anos depois da primeira incursão, um novo duo - os padres Estêvão Cacela e João Cabral - fez-se também ao caminho. Dessas incursões iniciais ficaram registadas muitas impressões nas cartas que os padres fizeram chegar aos seus superiores - entretanto editadas no volume Os Portugueses no Tibete, editadas pela Comissão dos Descobrimentos.
Um sinal divino?
Hugues Didier, que organizou essa correspondência, nota que os jesuítas viam no estabelecimento de uma missão no Tibete um acontecimento correspondendo a um sinal divino: "O profeta Isaías tinha anunciado para o final dos tempos a existência de uma "nação que vive numa montanha muito alta, de onde correm rios poderosos"." Essa montanha e esses rios identificaram-nos os jesuítas com o Tibete.
No livro agora editado, António Teixeira estuda essa correspondência e essas missões, para concluir que "a história da chegada dos portugueses ao Tibete é, em parte, a história do falhanço da fundação da tibetologia moderna".
Esta obra, organizada por Paulo Borges e Duarte Braga, é publicada (tal como a Revista Lusófona) a pretexto do congresso internacional que, em 3 e 4 de Outubro, se realiza em Lisboa, dedicado à presença do budismo na cultura portuguesa.
Nos dois volumes referidos são estudados alguns aspectos da relação entre Portugal e o budismo, e analisada a relação de vários escritores e pensadores portugueses com aquela espiritualidade. Eça de Queirós, Antero de Quental, Oliveira Martins ou Leonardo Coimbra, Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, Teixeira de Pascoaes e Vergílio Ferreira, encontram-se entre os nomes evocados.