Morreu o cineasta italiano Michelangelo Antonioni

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Michelangelo Antonioni Reuters

O anúncio da morte de Antonioni chega 24 horas depois da notícia da morte de outro grande realizador do século XX, o sueco Ingmar Bergman.

O realizador faleceu por volta das 19h00 locais (18h00 em Lisboa), "calmamente, em sua casa, com sua mulher, Enrica Fico, a seu lado", refere a agência italiana. O corpo de Antonioni ficará a partir de hoje em câmara ardente na Câmara Municipal de Roma, estando o funeral marcado para quinta-feira em Ferrara, no norte de Itália, onde o realizador nasceu a 29 de Setembro de 1912.

"Com Antonioni morre não só um dos maiores realizadores mas também um mestre da modernidade", declarou hoje o presidente da câmara de Roma, Walter Veltroni, em comunicado.

Antonioni, um dos cineastas italianos modernos mais conceituados internacionalmente, alcançou a fama no fim da década de 60 e início da década de 70 com uma série de fimes individualizados.

Depois de vários anos a trabalhar com alguns dos maiores nomes do movimento neo-realista italiano, Antonioni foi aclamado mundialmente com filmes que exploravam aquilo que, na sua opinião, representava a esterilidade emocional da sociedade moderna. Ficou também conhecido como o cineasta da incomunicabilidade, "mal-de-vivre" e do amor impossível. O seu percurso internacional ficou marcado por prémios como o Leão de Ouro na Bienal de Veneza em 1964, pelo filme "O Deserto Vermelho"; a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1967, pelo filme "Blow Up - História de um Fotógrafo"; e um prémio especial atribuído pelo júri do Festival de Cannes, pelo filme "Identificação de Uma Mulher", em 1982.

Em 1995 foi homenageado com o Óscar de carreira e em 1997 recebeu o Leão de Ouro em Veneza, como reconhecimento pelo seu percurso de realizador.

Antonioni nasceu em 1912, no seio de uma família burguesa em Ferrara, no Norte de Itália. Estudou Economia e Comércio na Universidade de Bologna e em 1940 foi para Roma, onde ingressou no Centro Sperimentale di Cinematografia. Colaborou com a revista "Cinèma", considerada uma publicação de resistência ao regime fascista.

Em 1943 rodou o seu primeiro documentário “Gente del Po” e 1950 a primeira longa- metragem, “Cronaca di un amore”. Ganhou visibilidade com uma trilogia de que fizeram parte os filmes “A Aventura", em 1960, "A Noite", em 1961 e "O Eclipse" em 1962, todos interpretados por Mónica Vitti, a sua musa e actriz fetiche durante muitos anos. Em 1964 realiza o seu primeiro filme a cores, "O Deserto Vermelho".

O filme "A Aventura" marca o início do cinema introspectivo. Antonioni fala das dificuldades das relações humanas e da fragilidade dos sentimentos. Ganha maior notoriedade com o primeiro filme em inglês “Blow Up - História de um Fotógrafo”, que, como o nome indica, conta a história de um fotógrafo de moda que descobre nos seus negativos que foi testemunha de um assassínio em Londres.

O publico aproxima-se pouco e pouco dos seus filmes, muitas vezes difíceis de digerir, mesmo que estejam perfeitamente encaixados num plano estético.

Paralisado por um ataque cerebral em 1985, Antonioni foi homenageado pelo cinema italiano por ocasião dos seus 90 anos, numa cerimónia em Roma, em Setembro de 2002.

Nestes últimos anos, muito afectado pela doença, refugiou-se num mundo de cor, tendo feito colagens que estiveram expostas em Roma em Outubro de 2006.

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