Ana Quintans, o talento e a sorte de uma soprano portuguesa da nova geração no Festival de Espinho
a Uma das mais elogiadas sopranos portuguesas da nova geração, Ana Quintans, canta hoje no penúltimo concerto do Festival de Espinho. Antes do encerramento, no domingo, com o grande pianista Ivo Pogorelich, é a vez da jovem Quintans mostrar o que vale cantando o Gloria de Poulenc ao lado da Orquestra Clássica de Espinho e do Coro Sinfónico Lisboa Cantat. O concerto tem um programa original, incluindo ainda um Concerto-Fantasia de Philip Glass, interpretado pelos percussionistas Miquel Bernat e Rui Sul Gomes. "Nunca tinha vindo cantar a Espinho", diz Ana Quintans. "Fui convidada pelo maestro Cesário Costa, talvez pelos concertos que fiz recentemente na Gulbenkian, não sei se foi isso." Por sorte, Cesário Costa convidou-a para interpretar uma das suas obras favoritas: o Gloria de Poulenc. "É uma obra fantástica, com uma orquestra enorme. Já gostava muito do Gloria, e aceitei logo, sem conhecer a partitura." Entretanto mergulhou na partitura e, apesar dos poucos ensaios, Ana Quintans (n. 1975) mostra-se satisfeita: "É óptimo, um trabalho com uma orquestra muito jovem. E já conhecia o trabalho do maestro Cesário Costa, tinha trabalhado com ele num concerto no Algarve."
Ana Quintans diz que "ter cantado na Gulbenkian abriu outras portas". Refere-se aos concertos em que participou em Dezembro do ano passado e Abril deste ano (incluindo o Magnificat de Bach), ambos dirigidos por Michel Corboz. Mas destaca também o seu trabalho fora de portas, sobretudo a experiência profissional com Les Arts Florissants, o grupo de música barroca de William Christie. "É um prazer todo o processo até chegar ao concerto. Há tempo e há dinheiro para fazer mais ensaios." Não se limita a cantar música barroca, como prova este concerto em Espinho, mas reconhece que "o tipo de vocalidade do barroco tem a ver com o meu tipo de voz. Sinto-me muito bem nesse repertório, e tive necessidade de me especializar um pouco."
Com Les Arts Florissants cantou sobretudo música barroca francesa e óperas dos séculos XVII e XVIII. Esta experiência no festival é particularmente exigente para a sua voz: "Estou a habituar-me a ouvir a minha voz com uma orquestra tão grande. Não tenho uma voz enorme e por isso não faço habitualmente compositores românticos, por exemplo." Apesar disso, acha que este Poulenc resulta: "Há uma vocalidade misteriosa, partes em piano e pianissimo, e não penso que esteja a resultar mal." Este convite é mais um passo para conseguir outros concertos. "Um trabalho puxa o outro. E também é preciso estar atento, porque começa a haver mais oportunidades para os cantores." Pensa que "há muito para fazer", mas nem sempre os projectos são os mais apelativos, sobretudo na forma de trabalhar: "Muitas vezes são produções pouco interessantes para os cantores. Vejo isso também por outros colegas que estão a começar. Às vezes é muito "salve-se quem puder". E há pouco dinheiro para fazer mais ensaios."
Por outro lado, pensa que há mais projectos interessantes, e dá como exemplo uma ópera de Luís Tinoco com encenação de Terry Jones na qual irá cantar no São Luiz, em Lisboa. Tem muitos concertos agendados e muitos projectos, da música barroca a ópera contemporânea. "Já tenho recusado coisas porque calha tudo na mesma altura", diz Ana. Mas tem conseguido mostrar ao mundo o timbre especial da sua voz. Talento? Ela prefere dizer apenas: "Acho que tenho tido sorte."
Ana Quintans, soprano
Miquel Bernat e Rui Sul Gomes, percussãoOrquestra Clássica de Espinho
Coro Sinfónico Lisboa Cantat
Cesário Costa, Direcção
Auditório de Espinho
Hoje, às 22 h