Ideia para candidatura à Unesco pode alargar-se a toda a paisagem da ria de Aveiro

Ideia inicial visava apenas a classificação do barco moliceiro como património da humanidade. Projecto está ainda em fase embrionária

a O projecto ainda está numa fase embrionária e, apesar de não existirem ainda certezas quanto ao seu avanço, Rui Losa garante que a perspectiva de candidatar a zona da ria de Aveiro a Património da Humanidade é "animadora". O arquitecto portuense que liderou a candidatura da zona histórica do Porto à classificação da UNESCO decidiu aceitar o desafio lançado pela Região de Turismo da Rota da Luz (RTRL) e da Associação dos Amigos da Ria e do Moliceiro para avaliar as potencialidades de uma eventual candidatura do barco tradicional de Aveiro a Património da Humanidade. Após uma primeira "reflexão", Losa aconselhou a uma possível candidatura de um bem mais abrangente, que englobe a ria, as salinas e o barco moliceiro. Apesar de reforçar a ideia de que este tipo de processos carece de alguma cautela, até no período que antecede a decisão de avançar ou não com uma candidatura, reconhece que, ao nível "dos bens do património de paisagem natural humanizada", a região lagunar aveirense "tem um potencial a descobrir". Essa mesma nota foi ontem deixada numa conferência que proferiu na Rota da Luz, no âmbito do 1º Encontro Internacional de Embarcações Tradicionais de Aveiro.
Ver se vale a pena avançar
Em declarações ao PÚBLICO, o arquitecto asseverou que, após várias visitas à região e uma reflexão inicial, a ideia de candidatura pode vir a ser enquadrada enquanto paisagem "humanizada, evolutiva e viva". Importará "explicar porque há uma dinâmica nesta zona", adverte Rui Losa, ao mesmo tempo que compara a zona lagunar aveirense com a região do Douro, "onde há vinhas que se estão a fazer e outras a desfazer".
Rui Losa alerta para o facto de ser ainda cedo para afirmar se "vale a pena ou não avançar com uma candidatura. Há uma série de questões que têm de ser ponderadas". A Rota da Luz concorda com a cautela, asseverando que não quer correr os riscos de outras regiões portuguesas que apresentaram candidaturas da UNESCO que acabaram por ser retiradas. Outro dos dados adquiridos nesta discussão em torno de uma eventual candidatura prende-se com a necessidade de "os municípios da região envolvida" passarem a ser englobados no projecto, revelou Pedro Silva, presidente da RTRL.
Outra das advertências deixadas por Rui Losa prende-se com o tempo que pode levar até à tomada de uma decisão por parte da UNESCO. "Quem apresenta a candidatura é o Estado-membro e, neste momento, os países da Europa só podem apresentar uma candidatura por ano", explicou, acrescentando que "Portugal tem já uma lista de uma dezena de candidaturas".
A experiência adquirida por Rui Losa leva-o a avisar que "qualquer coisa que se pareça com pressão sobre a UNESCO só pode funcionar ao contrário". Prejudiciais podem tornar-se também todas as discussões políticas que, normalmente, se geraram em torno das candidaturas. Losa advertiu ainda que os municípios envolvidos "têm que saber que, a par das vantagens, podem ter também algumas condicionantes".

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