O poder das raparigas regressa com as Spice Girls
Exemplo maior da fabricação de um fenómeno pop nos anos 90, as inglesas Spice Girls confirmaram ontem que se voltaram a reunir para uma digressão que começa em Dezembro
a Depois de meses de especulação, as Spice Girls confirmaram ontem, numa conferência de imprensa realizada em Londres, que se reagruparam, seis anos depois de se terem separado, para uma digressão de 11 datas. A digressão, que terá início a 7 de Dezembro, em Los Angeles, passará ainda por Nova Iorque, Las Vegas, Londres, Colónia, Pequim, Cidade do Cabo, Hong-Kong ou Sydney. Buenos Aires, a 24 de Janeiro, será a última cidade visitada. A mais próxima de Portugal é Madrid, a 23 de Dezembro. "Para nós, é uma forma de celebrarmos o passado, desfrutarmos da companhia uma das outras e dos nosso fãs. Era agora ou nunca", afirmou uma das Spice, Geri Halliwell, numa conferência de imprensa onde passaram o tempo a divertir-se com jornalistas e fotógrafos. Havia rumores de que actuariam no concerto dedicado à princesa Diana, em Londres, no domingo, mas a gravidez de Emma Bunton impediu o propósito.
O anúncio do regresso das Spice Girls, agora todas na casa dos 30 e com um ar mais maduro, surge 11 anos depois de se terem estreado, com o single Wannabe. Victoria Adams (agora Beckham), de 33 anos, Geri Halliwell, 34, Melanie Chisholm, 33, Emma Bunton, 31 e Melanie Brown, 32, venderam mais de 55 milhões de discos, tendo registado seis "número 1" consecutivos no top de vendas britânico, para além de terem estado também por detrás do sucesso do filme Spice World. Intérpretes de sucessos como Wannabe, Too Much ou Say You" ll Be There, foram um fenómeno na segunda metade dos anos 90 e princípio de 2000, tendo assinado os álbuns Spice, Spiceworld e Forever.
Durante três ou quatro anos a sua presença foi assídua nos media, aparecendo nos canais de TV de todo o mundo e em cerimónias públicas, disseminando a ideologia do "girl power" - uma espécie de senha lançada para as fãs femininas terem confiança em si próprias. Numa mensagem deixada, ontem, no seu site oficial da Internet, podia ler-se que "o poder das raparigas está de regresso, mais poderoso que nunca".
A saída de Gerri Halliwell em 1998, por "diferenças" com as suas companheiras, foi o primeiro sinal de que nem tudo ia bem no reino das Spice. Depois de terem lançado o terceiro álbum, Forever, em 2000 - o primeiro que não alcançou o primeiro lugar dos tops - as quatro restantes ocuparam-se das suas carreiras individuais, anunciando a separação definitiva em 2001. Desde então, estiveram ocupadas a tentar a sua sorte a solo com sucesso variável, a lançar linhas de roupa, a ter filhos - seis, entre as cinco - e a casar com figuras mediáticas, com destaque para o casal Victoria e David Beckham, o futebolista do Real Madrid a caminho dos EUA. Apesar de não ter tido uma actividade musical tão abundante como as restantes, Victoria converteu-se na mais mediática, assumindo-se como ícone da moda e do social.
Sucesso fabricado
Há 50 anos que existem estrelas pop feitas por medida, aquilo que muitos identificam como sendo música pop descartável ou plástica, mas as Spice Girls personificaram provavelmente a história de maior sucesso de todas. Como em todas as histórias semelhantes, há sempre um personagem na sombra. Neste caso, trata-se do produtor de televisão Simon Fuller, que volta a ser um dos principais responsáveis pelo regresso. Foi ele, através de uma campanha metódica, que as guiou ao cume. "Estudei os tops e formulei o meu plano. Havia grupos de rapazes como os Take That e os Boyzone, mas não existia um equivalente feminino", afirmou Simon Fuller já depois de as Spice se terem separado. "Elas tinham uma atitude pós-feminina. Os rapazes podiam admirá-las, mas o objectivo eram as raparigas. Era com o público feminino que elas tinham que ser leais." No final de 1997, tinham construído um verdadeiro império.
A separação nunca foi esclarecida, embora Pete Waterman, outro responsável por carreiras de sucesso pop na esteira das Spice Girls (Kylie Minogue, Rick Astley ou Jason Donovan), não deva andar longe da verdade quando um dia afirmou que o problema das estrelas descartáveis é "quando começam a acreditar na própria publicidade que produzem".
As Spice Girls foram talvez o exemplo supremo da fabricação de um fenómeno. O seu sucesso, mais do que a música, deveu-se a um conceito arquitectado com engenho. Conseguirão elas produzir o mesmo efeito agora?