Livro co-assinado por Litvinenko acusa poderes secretos da Rússia pós-comunista
Iuri Felshtinski, amigo do ex-espião Alexander Litvinenko, está hoje em Lisboa e amanhã
no Porto para falar de Terror na Rússia, o livro que ambos escreveram sobre a Rússia de Putin
a A divisão do antigo KGB em quatro novas estruturas, depois do desmoronar da União Soviética em Agosto de 1991, é um dos pontos fulcrais do livro de grande fôlego Terror na Rússia, escrito pelo antigo espião Alexander Litvinenko de parceria com o académico Iuri Felshtinski. E que este último apresenta hoje em Lisboa, na Fnac Colombo, e amanhã no Porto, numa adaptação para português de Vítor Guerreiro, lançada pela Porto Editora."A Rússia escolhe sempre a pior das alternativas possíveis", concluem os autores da obra, ao explicarem como é que na última dúzia de anos o poder permaneceu, "como antes, nas mãos dos serviços secretos". E logo dizem que foram precisamente esses serviços que fizeram "deflagrar a primeira e segunda guerras da Tchetchénia, de maneira a desviar o país do caminho da democracia para a ditadura, o militarismo e o chauvinismo". Foram eles que organizaram "uma série de brutais atentados terroristas em Moscovo e outras cidades, como parte das suas operações".
As explosões de Setembro de 1999, em particular o malogrado atentado terrorista de Riazan, em Setembro, estão no centro deste livro do antigo agente secreto envenenado em Londres com polónio-210 e do homem que com ele manteve uma relação de grande camaradagem.
A conspiração secreta para que o terror do KGB sobrevivesse ao desmoronar do poderio soviético é aqui abordada numa excelente monografia, com abundância de nomes e factos que assim ficam ao alcance de qualquer um. Para que todos possam compreender o verdadeiro rosto dos Serviços de Segurança da Federação Russa (FSB), herdeiros do velho Comité da Segurança do Estado.
Terror de massas
"Só um louco completo poderia desejar arrastar a Rússia para qualquer guerra, quanto mais uma guerra no Norte do Cáucaso. Como se não tivesse acontecido já o Afeganistão", dizem os dois amigos, nesta obra que os seus compatriotas estão proibidos de ler (por haver sido censurada), mas da qual os direitos de tradução foram vendidos para a Itália, o Japão, a Alemanha e muitos outros países. E que o Braun Entertainment Group, de Beverly Hills, na Califórnia, tenciona passar ao cinema.
É um livro sobre uma tragédia, a tragédia do povo russo, que não acabou no dia em que a URSS se desintegrou e o comunismo deixou de ser a doutrina oficial do Kremlin. Um livro sobre a resistência dos poderes ocultos a quaisquer reformas dignas desse nome e verdadeiramente democratizantes.
Coube ao coronel-general Nicolai Patrushev, director do FSB, a "honra" de ter provocado a segunda guerra da Tchetchénia, de modo a explorar o caos daí resultante para que as forças de segurança tomassem o poder nas eleições presidencias de 2000, defendem Litvinenko e Felshtinski, que corroboram as suas teses com documentos oficiais.
O primeiro dos autores encontrou-se com dois compatriotas num hotel londrino em 1 de Novembro do ano passado e horas depois começou a vomitar, como se tivesse sido envenenado. Dia 4 foi hospitalizado, a 8 falou pela última vez com Felshtinski e a 23 morreu, aparentemente por saber demais sobre as práticas de uma instituição a que outrora pertencera. A justiça do Reino Unido acusa Andrei Lugovoi, um antigo oficial do KGB, pela morte de Litvinenko, mas a Rússia rejeitou o pedido de extradição britânico.
A hidra dos serviços secretos sucedâneos do KGB cometera em Setembro de 1999 "monstruosos actos de terrorismo em Buinaksk, Moscovo e Volgodonsk". Não respeitara as liberdades e os direitos humanos do povo russo. Ultrapassara os limites da legalidade; e recorrera ao "terror de massas", conforme se escreve nesta versão da obra Blowing up Russia, que começou por ser publicada nos Estados Unidos e que no Brasil saiu com o nome de A Explosão da Rússia.