Isaac Newton Profeta do Apocalipse, disse que o mundo pode acabar no ano 2060
O físico e matemático acreditava que a Bíblia tinha profecias em código e tentou desvendar algumas, chegando a prever o fim dos tempos. Uma exposição mostra pela primeira vez os seus escritos proféticos
a Costuma dizer-se que Isaac Newton (1642-1727) descobriu a lei da gravitação universal sentado debaixo de uma macieira, quando uma maçã lhe caiu em cima da cabeça e de repente vislumbrou a verdade. A história não passa de uma lenda, mas dá a medida da inteligência de Newton, geralmente considerado como um dos maiores génios de sempre - o pai da física, da matemática e da óptica modernas. Antes do seu 25º aniversário, já tinha realizado aquela proeza da maçã e ainda inventado o cálculo infinitesimal e mostrado experimentalmente que a luz branca é composta por todas as cores do arco-íris.Mas Newton era filho do seu tempo. E, como tal, tinha herdado "uma paixão pela teologia e uma sede insaciável pelos mistérios da alquimia", como escrevia em 1937 o matemático E. T. Bell no seu famoso livro Men of Mathematics. No que respeita à teologia, salienta Bell, "Newton era um crente ferrenho na existência de um Criador omnisciente do universo [...]".
"No tempo de Newton, a teologia era a rainha das ciências", diz ainda este autor, e Newton "dedicou o que considerava os seus esforços realmente sérios a tentar provar que as profecias de Daniel e a poesia do Apocalipse fazem sentido [...]".
A exposição Os segredos de Newton, que no início desta semana inaugurou na Biblioteca da Universidade Hebraica, em Jerusalém, é uma amostra destes esforços, que na sua totalidade representam um corpus de "três milhões de palavras sobre teologia e profecias bíblicas", segundo os organizadores da iniciativa. É a primeira vez que os documentos proféticos de Newton são mostrados ao público, embora já se conhecesse parte do seu conteúdo. O próprio nunca os publicou.
Em 1936, os escritos não científicos de Newton foram leiloados na Sotheby"s, em Londres, e adquiridos pelo economista britânico John Maynard Keynes e pelo orientalista egípcio Abraham Yahuda. Em 1951, este último doou a sua parte ao recém-fundado estado de Israel, tendo os inéditos manuscritos chegado à posse da universidade em 1969. O próprio Einstein, numa carta dirigida a Yahuda em Setembro de 1940, considerava "particularmente interessantes" os textos de Newton acerca de "assuntos bíblicos", na medida em que forneciam "uma visão única [...] dos processos mentais deste grande homem".
Newton acreditava fervorosamente que a Bíblia era a obra de Deus e que continha revelações que era possível decifrar. No mais famoso dos seus manuscritos agora apresentados - que foi escrito por volta de 1705
e cujo conteúdo, divulgado em 2003, fez as manchetes dos jornais do mundo inteiro -, Newton calcula, nem mais nem menos, do que a data a partir da qual poderá começar
o Juízo Final: o ano 2060.
Para isso, baseia-se numa expressão recorrente na Bíblia, nos livros de Daniel e do Apocalipse, onde o fim das coisas surge após um período de corrupção descrito como "um tempo, tempos e metade de um tempo". Ela significa, literalmente: "um ano, dois anos e metade de um ano", ou seja 1260 dias (na Bíblia, o ano tem 12 meses de 30 dias, num total de 360 dias). Mas para Newton, os dias são na realidade anos - 1260 anos, portanto. A seguir, Newton escolhe a data a partir da qual essa contagem decrescente de 1260 anos deve ser feita: 800 d.C., ano da coroação de Carlos Magno, "em que a supremacia do Papa começou". Ora, 1260 mais 800 dá 2060.
Aritmética bíblica
Mas Newton não se limita apenas a esta simples conta. Acontece que o hermético texto de Daniel sugere outras possíveis contagens para a sua profecia apocalíptica. Assim, para além dos 1260 dias já referidos, há também as "2300 tardes e manhãs" após as quais "o santuário será restaurado" (Daniel 8,14); e os 1290 dias "desde o tempo em que será abolido o holocausto perpétuo e estabelecida a abominação devastadora" (Daniel 12,11).
Ora, como Newton era sobretudo um cientista - e ainda por cima, um cientista experimental -, ele não podia ignorar estes dados, apesar de contraditórios. Não se podia contentar explicando apenas uma parte das suas observações. "Newton empreendeu essa descodificação, essa interpretação, através de um raciocínio sistemático e incisivo e uma meticulosa utilização de todas as fontes disponíveis", salientava ainda Einstein na sua carta de 1940 a Yahuda. De facto, ele vai literalmente aplicar o método científico ao texto bíblico.
Newton analisa o conjunto dos dados de que dispõe e constrói assim três intervalos de tempo: 2132-2370, 2060-2344 e 2132-2374 (ver caixa). Conclusão óbvia: a data mais próxima para o fim dos tempos começarem é 2060 - e foi ela que causou sensação em 2003, por se situar a menos de 60 anos. Já agora, diga-se de passagem que, segundo as contas de Newton, o mundo acabará certamente até 2374.
Newton conclui portanto que não deverá acontecer nada até 2060, reafirmando ao mesmo tempo a sua fé nas Escrituras: "[O mundo] poderá acabar mais tarde, mas não vejo razões para acabar antes. Digo isto não para afirmar quando virá o tempo do fim, mas para travar as conjecturas intempestivas de homens fantasistas que frequentemente prevêem a data do fim, desacreditando as sagradas profecias de cada vez que as suas previsões falham."
Outros códigos
Ainda hoje, a ideia de que existem códigos escondidos na Bíblia tem dado origem a best-sellers de seriedade discutível... Um dos mais recentes exemplos é o livro O Código da Bíblia, do jornalista norte-americano Michael Drosnin, cujo primeiro volume (já existem dois em inglês e está programado um terceiro) foi publicado em 2003 em Portugal e que faz previsões à la Nostradamus.
É mais do que provável, porém, que o único código escondido na Bíblia, e apenas na sua versão inglesa (a chamada King James Bible) seja... o apelido de um dos seus mais célebres tradutores: William Shakespeare. O facto foi revelado em tom de brincadeira, nos anos 70, pelo matemático norte-americano Martin Gardner na sua coluna mensal Mathematical Games da revista Scientific American. Afirmava Gardner que Shakespeare, que tinha 46 anos em 1611 (altura da primeira publicação daquela Bíblia), tinha gravado o seu nome no salmo 46 da maneira seguinte: a 46ª palavra a partir do início do salmo era shake (tremer) e a 46ª a partir do fim (excluindo a palavra Selah, que fecha alguns dos salmos e em particular o 46º) era spear (lança). Vá lá ver: é mesmo verdade.