Arquitecto que remodelou o Rivoli teme que a acústica da sala esteja em causa
a As placas que garantem a qualidade acústica do Teatro Rivoli, no Porto, foram removidas para a realização de Jesus Cristo Superstar, espectáculo do encenador Filipe La Féria, sem que o o arquitecto responsável pela obra fosse previamente consultado. "Não fui informado sobre nada, ao contrário do que é habitual quando há modificações [num edifício de autor]", afirmou ao PÚBLICO o arquitecto Pedro Ramalho, cujo projecto de recuperação da sala municipal venceu o Prémio João de Almada em 2000. Pedro Ramalho espera que tenha sido feito "um levantamento rigoroso" das estruturas, uma vez que nenhuma inclinação das placas que estavam no auditório principal é "aleatória". "Os painéis reflectores não foram feitos para serem removidos, o posicionamento de cada um deles resulta de medições. Caso sejam repostas mais ou menos no lugar que estavam, as consequências podem ser desastrosas", afirmou. O arquitecto receia que os materiais não tenham sido retirados com "a prudência necessária".
Carla Lopes, da produção de Jesus Cristo Superstar, afirmou ao PÚBLICO que todas as 26 estruturas laterais da sala foram "removidas por uma equipa de profissionais" e guardadas "cuidadosamente" num local "seguro". "Todo o trabalho foi feito por técnicos, deixaremos todas as placas exactamente no lugar onde estavam", garantiu a responsável. Se tudo correr como La Féria quer - ou seja, se os espectadores continuarem a manter o sucesso de bilheteira que a produção assegura ter registado desde a estreia -, o musical de Weber poderá continuar em cartaz até ao final de 2007.
Os cálculos de acústica foram realizados por um grupo da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, coordenado por Vitor Abrantes Almeida, professor do Departamento de Engenharia Civil. Contactado pelo PÚBLICO, este reiterou que a localização de cada painel não é "gratuita", antes resulta de um trabalho moroso que pode levar alguns meses a ser concluído.
"Se tiverem feito as medições antes de remoção, acredito que hoje seja relativamente fácil devolver à sala a sua característica original. Se não souberem a posição exacta em que os painéis estavam, a acústica pode ficar comprometida", afirmou o engenheiro, que recorda que já existem instrumentos que simplificam o processo. Vitor Abrantes não tem certeza se as coordenadas de cada uma das 26 placas reflectores estão completamente documentadas. Parte do trabalho foi feito no próprio local, pelo que provavelmente não será possível recuperar a totalidade da informação original.
As placas foram retiradas para a produção Jesus Cristo Superstar, que Filipe La Féria produziu para estrear no Rivoli