"A cenografia só se realiza pelas acções dos intérpretes"
a Na estreia internacional do trabalho cenográfico de João Mendes Ribeiro, o arquitecto e cenógrafo recebeu um dos mais significativos prémios da Quadrienal de Praga. Na 11ª edição do certame, Mendes Ribeiro viu o projecto Arquitecturas em Palco ganhar o Best Stage Design, medalha de ouro de uma das mais conceituadas exposições internacionais nas áreas da cenografia e da arquitectura para as artes cénicas. Portugal já tinha participado na Quadrienal de Praga (apresentou trabalhos cenográficos e desenhos de guarda-roupa de José Manuel Castanheira, João Brites, Nuno Carinhas e António Casimiro), mas desta vez preparou uma representação oficial. Para tal, o Instituto das Artes (IA) convidou, há cerca de dois anos, João Mendes Ribeiro, em função do seu "percurso muito consistente", explicou ao P2 Adelaide Ginga, subdirectora do IA.
A presença portuguesa requereu um investimento de 280 mil euros, disse a responsável, mas este orçamento inclui já o programa itinerante de Arquitecturas em Palco, que em Agosto estará em Barcelona e no último trimestre do ano viajará para São Paulo. Lisboa e Porto só poderão ver o projecto no próximo ano, mas ainda não estão definidos os locais e datas.
Arquitecturas em Palco reúne um conjunto de 16 cenografias para teatro e dança que, disse Mendes Ribeiro ao P2, se enquadram no "espírito contemporâneo de hibridação". A ideia de expor um "ensaio" que traduzisse a articulação entre a arquitectura e a cenografia levou à divisão em dois temas: a exploração do "espaço e do objecto enquanto extensão do corpo humano" e a "cenografia como representação arquitectónica".
Através de desenhos e de fotografias e ainda de uma série de materiais acondicionados em "malas-mesa", Mendes Ribeiro quis destacar a "componente vivencial dos espaços", ou seja, "a relação muito forte dos intérpretes com os objectos cénicos". Notando que há mais semelhanças do que se pode julgar entre as duas disciplinas, o cenógrafo e arquitecto defende que "a cenografia só se realiza pelas acções dos intérpretes". E isso é bastante notório nos projectos em que Mendes Ribeiro atribui uma utilidade a todos os objectos cénicos (veja-se a cenografia de Quando o Inverno Chegar, em cena no Teatro S. Luiz, em Lisboa).
A proposta que levou para Quadrienal de Praga incluiu ainda a projecção de dois filmes: uma mostra, em 15 minutos, de diversas cenografias realizadas entre 1996 e este ano; e o projecto A Sesta, encomendado pelo IA à coreógrafa e bailarina Olga Roriz, uma das artistas com quem Mendes Ribeiro frequentemente colabora.
Estreia no TEUC
Arquitecto de formação e professor da disciplina de Projecto no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, João Mendes Ribeiro estreou-se na cenografia em 1991, quando Ricardo Pais (encenador e director do Teatro Nacional S. João, Porto) o convidou para trabalhar na peça Grupo de Vanguarda, pelo TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra). Desde então, não mais deixou de assinar projectos cenográficos e tem colaborado com inúmeros criadores do teatro e da dança. Quando recebeu a notícia do prémio da Quadrienal de Praga, sentiu o reconhecimento internacional das suas criações. "Foi muito gratificante."
O seu mais recente trabalho cenográfico pode ser visto na peça Quando o Inverno Chegar, encenada por Marco Martins e escrita por José Luís Peixoto.