Antigo membro do Ku Klux Klan condenado por dois homicídios 43 anos depois do crime
Irmão de umas das vítimas lutou durante décadas pela condenação dos responsáveis pelo crime
a Com 43 anos de atraso fez-se justiça no caso de dois jovens negros perseguidos, torturados e assassinados pelo Ku Klux Klan no estado do Mississípi, no Sul dos Estados Unidos: James Ford Seale, um polícia reformado com 71 anos, outrora um reconhecido membro daquela organização racista, foi condenado pelos crimes de rapto e conspiração na morte de Charles F. Moore e Henry H. Dee, no Verão de 1964."Finalmente sinto que o Mississípi é a minha casa", desabafou ontem Thomas Moore, que durante décadas nunca deixou de procurar a condenação dos responsáveis pela morte do seu irmão, um estudante de 19 anos encontrado morto, amarrado a um tronco de árvore no leito do rio Mississípi. "Vou poder ir àquele cemitério de Mount Olive e finalmente dizer ao meu irmão: "Eu bem te disse que não desistiria e levaria isto até ao fim"", comentou.
Para o desfecho do caso foi fundamental o depoimento de Charles Marcus Edwards, que tal como Seale fazia parte do Ku Klux Klan. A acusação reconheceu ter feito "um pacto com o diabo" ao oferecer-lhe imunidade jurídica em troco do seu testemunho, uma decisão tomada na sequência da reabertura pelo FBI de dezenas de casos de crimes raciais ligados ao movimento dos direitos civis e que permaneciam sem resolução.
Segundo relatou Edwards em tribunal, os dois jovens negros foram apanhados na estrada e forçados a entrar na carrinha Volkswagen de James Seale, que os transportou para uma quinta onde terão sido espancados numa sessão de tortura destinada a perceber se a população negra dispunha de armas, Seale (que aos 28 anos era o Cavaleiro Branco do Ku Klux Klan) terá depois conduzido os dois para a fronteira da Louisiana; aí, os seus raptores ataram-nos com pesos e atiraram-nos ainda vivos para o rio Mississípi. A advogada de defesa de James Seale, que permaneceu impassível durante a leitura da sentença, anunciou de imediato que vai apresentar recurso. Seale, que chegou a simular a própria morte para fintar as autoridades, enfrenta uma possível pena perpétua.