Beastie Boys, 20 anos depois Alive! e pela primeira vez em Portugal
Os nova-iorquinos Beastie Boys estrearam-se em palcos portugueses e a festa aconteceu
no terceiro dia do primeiro festival Oeiras Alive!, que vai regressar no próximo ano
a A estreia em Portugal dos americanos Beastie Boys e as prestações dos portugueses WrayGunn, Da Weasel e Buraka Som Sistema foram os maiores destaques do último dia de Festival Alive, que juntou 20 mil pessoas no Passeio Marítimo de Algés. A organização, a cargo da Everything Is New, diz-se satisfeita com a primeira edição, anunciando a segunda para o próximo ano, 10, 11 e 12 de Julho, no mesmo local. Ao longo dos três dias, a organização foi eficiente, o espaço amplo, mas o som abafado do palco principal e a estridência do secundário são pontos a corrigir.
No primeiro dia, Pearl Jam; no segundo, Smashing Pumpkins; e, no terceiro, Beastie Boys. Três projectos veteranos, transgeracionais, foram responsáveis pela presença da maior parte do público. Na última noite, mais de 20 anos depois da estreia, os nova-iorquinos Beastie Boys pisaram pela primeira vez um palco em Portugal e o momento foi assinalado condignamente.
A sua música já não possui a pertinência de outros tempos, mas, num evento do género, não é isso que está em causa. Não se quer grandes novidades, quer-se reconhecimento. E foi quando ele aconteceu que palco e plateia foram um só. Mike D, Adrock e MCA, de fato, gravata e óculos escuros, coadjuvados pelo DJ Mixmaster Mike, foram imparáveis quando adoptaram o modelo convencional do hip-hop - música para voz, batida e gira-discos.
Teatrais, irónicos, vibrantes, os americanos foram mais convincentes quando adoptaram o papel de declamadores-incitadores, percorrendo o palco de lés a lés, em temas como Body moving, Root down ou Can"t, won"t stop. Quando optaram pela função de músicos - em baixo, bateria e guitarra, coadjuvados por um percussionista e pelo teclado de Money Mark - a sua música transfigurou-se, percorrendo o jazz-funk cósmico.
O público sentiu-se menos à vontade neste campo, reagindo com alguma frieza, mas na parte final, e no encore, voltaram a revelar-se imparáveis, colocando toda a gente em delírio com No sleep" till Brooklyn, Intergalactic e com Sabotage, descarga de electricidade fulminante com dedicatória - George Bush.
Palco secundário?
Antes, pelo palco principal, já haviam passado Sam The Kid, não vimos, o israelita Matisyhau, sofrível, e os Da Weasel, seguros. No palco secundário, atenções viradas para os WrayGunn, Vicious 5 e Buraka Som Sistema. Dos primeiros, o que se pode dizer é que não se percebe o que é que andam ainda a fazer em palcos secundários. É por demais evidente que são a melhor banda portuguesa ao vivo da actualidade. Dito isto, não estiveram ao seu melhor nível no Alive!, apesar do final desvairado, depois de Paulo Furtado ter partido uma corda da guitarra e ter improvisado uma aplaudida peregrinação por entre a assistência.
Ou seja, mesmo quando não são brilhantes, os WrayGunn são bons, principalmente desde que descobriram uma nova cantora de apoio, com um magnífico registo soul, que habita na perfeição o rock rude da banda. Os Vicious 5, já se sabe, são vigorosos e têm um vocalista arrebatado e sátiro - jocoso com o rapper judeu Matisyhau, atirou às tantas que "amanhã no PÚBLICO ainda vamos ser acusados de anti-semitismo", mas Joaquim Albergaria não tem que se preocupar. O problema é que, por vezes, essa salutar energia roqueira em bruto não se foca, dispersa-se, anulando-se a si própria, gerando algum cansaço. Ainda por cima, quando o som está no limite do audível, como era o caso.
E, para fim de festa, Buraka Som Sistema, em júbilo, com formação alargada, o hedonismo de sempre e um mar de gente para os ver. Quem já conhece voltou a vibrar, quem se confrontou pela primeira vez com eles foi para casa a proferir "Yah!"