Uma Maison Tropicale por 4 milhões de euros
Uma casa de Jean Prouvé que estava em Brazzaville vai ser leiloada em Nova Iorque. É a casa que inspirou o projecto da portuguesa Ângela Ferreira para a Bienal de Veneza. Fotos de Don Emmert/AFP e texto de Vanessa Rato
Prouvé, que nunca tinha estado em África, concebeu as Maison Tropicale segundo os paradigmas modernistas, mas adaptando-os ao que imaginou ser a vida nos trópicos. Composta por elementos modulares em materiais como alumínio e madeira, a casa de Brazzaville tem uma varanda a toda a volta e o tecto tem uma sistema de ventilação. À volta da varanda há painéis em alumínio para reflectir para fora a luz solar e evitar um aquecimento excessivo. Por dentro, a verdadeira fachada da casa é feita em painéis móveis.
Não se sabe por quanto terá o francês Eric Touchaleume comprado as Maison Tropicale em 2001. Talvez por muito pouco. Foi ele que pagou a desmontagem e transporte de volta a França. Tratou também do restauro de duas casas (entre outros danos, havia buracos de bala). A de Niamey foi doada ao Centro Pompidou por Robert Rubin, o critico de arquitectura americano que financiou as viagens exploratórias de Touchaleume. Agora a solo, Touchaleume diz que vai usar parte das receitas do leilão para restaurar a última.
O regresso das casas de Prouvé à Europa inspirou Ângela Ferreira, representante oficial portuguesa na edição deste ano da Bienal de Veneza, o mais importante evento de artes plásticas do mundo (abre dia 10). A artista interpreta a chegada das casas como obras de arte ao mercado ocidental como um gesto expoliador e neo-colonialista. Em Veneza mostra uma escultura da casa de Brazzaville desmontada, dentro de uma cópia do contentor desenhado por Prouvé para a transportar, e fotografias do que ficou em África quando a casa foi tirada - os despojos do saque.
O designer e arquitecto francês Jean Prouvé concebeu a sua Maison Tropicale em 1949 como protótipo para uma série de módulos habitacionais pré-fabricados a executar em França e a exportar para a África francófona. Nesse mesmo ano, depois de uma apresentação em Paris, a primeira de apenas três que seriam acabadas viajou de avião para Niamey, capital do Nigér. As outras duas seguiram em 1951 para Brazzaville, capital do Congo - é uma delas que a Christie"s leva a leilão na terça-feira esperando vendê-la por mais de 4,4 milhões de euros.