Torne-se perito

A história de uma mina de carvão

Thomas Martin diz que o Estado alemão pagou a operação de reabertura e as escavações que custaram cem mil contos a Extraíram de lá carvão até 1961, ano em que foi desactivada. Mas quis o acaso que o paleontólogo alemão Walter Kühne, da Universidade Livre de Berlim, se cruzasse com a mina da Guimarota um pouco antes. Em 1959, ele e um estudante chegaram a Portugal para uma prospecção paleontológica, com visita a jazidas de dinossauros. Ficaram então a saber da existência da mina, onde vieram a encontrar o crânio de um pequeno mamífero. Começava aí a história de uma mina com grande importância paleontológica.
Logo em 1960, Kühne veio para a primeira campanha de escavação, conta-se no site geoRoteiros, feito por cientistas da Universidade Nova de Lisboa. Os trabalhos prosseguiram nos dois anos seguintes, apesar de a mina ter deixado entretanto de ser explorada. Durante os anos 60, os cientistas foram recolhendo mais material, mas apenas dos escombros.
No entanto, a importância dos fósseis encontrados fez com que, entre 1971 e 1982, a mina fosse reaberta só para os cientistas. Estava submersa, tal como agora, mas o Estado alemão pagou a operação de reabertura e as escavações. Custaram cerca de um milhão de marcos (cem mil contos), diz o paleontólogo Thomas Martin.
Os fósseis da Guimarota - de mamíferos, crocodilos, peixes, gastrópodes, dinossauros, pterossauros ou aves primitivas - ocuparam durante mais de 30 anos, a tempo inteiro, uma preparadora. Era Ellen Dreschen, já reformada, que os removia do carvão onde estavam incrustados. "Foi um grande investimento."
Ao longo de todos estes anos, cerca de 25 cientistas alemães ocuparam-se dos fósseis da Guimarota. Publicaram-se mais de cem artigos. "E as publicações vão continuar", diz Martin.
Há 150 milhões de anos, a zona da Guimarota era um pântano. O oceano Atlântico começava a formar-se, separando a Europa da América. Era uma ambiente subtropical, com uma vegetação exuberante. Havia coníferas, cicas e fetos. Os dinossauros, então senhores da Terra, não se afoitavam a ir até ali. Todos os seus fósseis são de animais pequenos. "Pensa-se que o ambiente pantanoso os impedia de entrar", diz o paleontólogo. Foi o vislumbre desse passado que chegou até nós. "A Guimarota é importante porque os fósseis estão bem preservados e há muitos exemplares num só sítio." T.F.

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