"Portugal descobriu a Formosa e depois esqueceu-se dela"

a Chen-hsiung Lee, diplomata de carreira e poeta nas horas livres, não se conforma. "Há 500 anos os marinheiros portugueses descobriram a ilha Formosa, mas depois esqueceram-se dela", apesar de a actual Taiwan ser a 16ª potência económica mundial, diz numa entrevista ao PÚBLICO.Representante do Centro Económico e Cultural de Taipé em Lisboa, Chen-hsiung Lee não encontra justificação para as fracas trocas comerciais - 300 milhões de dólares de um volume total superior a 340 mil milhões. "A questão de Macau há muito está resolvida", refere. Eventuais pressões da China para impedir laços mais fortes não justificam, na sua opinião, que Portugal ignore o potencial que Taiwan oferece. O centro em Lisboa funciona desde 1992, sete anos antes da devolução de Macau a Pequim.
"Quase todos os Estados da União Europeia [dos fundadores, como a França e a Itália, à Polónia ou República Checa] têm um escritório em Taipé, mas Portugal continua ausente", lamenta. "Portugal nunca será o destino principal de um homem de negócios ou de um turista taiwanês porque é muito difícil obter um visto". Pelas mesmas razões, "é difícil promover os produtos portugueses", como os vinhos, que teriam, entende, muitos compradores entre os 23 milhões de habitantes. "Portugal podia ser também uma ponte e uma porta de entrada na Europa para os produtos taiwaneses."
Camuflando um momentâneo desgosto com o seu omnipresente bom-humor, Chen-hsiung confessou ter ficado "muito surpreendido" quando leu num jornal que o Presidente português, Cavaco Silva, se "sentiu inspirado" ao ver um parque tecnológico na Índia. "Nós temos parques científicos há 20 anos. Por que nunca nos visitaram? Somos o maior fabricante mundial de circuitos integrados. Fornecemos componentes à Europa e aos EUA. Portugal parece não saber da nossa existência", disse.
Se a abertura de uma representação de Lisboa em Taipé é um objectivo do mandato de Chen-hsiung, outro é convencer Portugal, durante a sua presidência da UE, a manter o embargo de armas à China: "Isso é imperativo para a segurança da Ásia Pacífico", frisou.
Levantar o embargo seria "reforçar o poder militar da China", que mantém apontados a Taiwan "mais de mil mísseis" e cujo orçamento de defesa "continua a não ser transparente", agravando as tensões regionais. "Os EUA e o Japão apoiam o embargo, apelamos à Europa para que não recue". Taiwan, adianta Chen-hsiung, "é um país democrático, com liberdade de expressão e respeito pelos direitos humanos". "(...) Somos um parceiro de confiança para garantir a segurança da região. (...) Não fazemos parte da China. Somos soberanos. Temos um governo e forças armadas. Somos reconhecidos por 25 países."
E um deles é São Tomé e Príncipe, com a qual Pequim cortou relações em sinal de protesto. "Estamos a ajudar São Tomé a desenvolver as suas estruturas, na área da saúde e da agricultura", refere Chen-hsiung, um perito no continente africano e que serviu o seu governo em Angola, Gâmbia e Costa do Marfim. "Ainda não participamos no desenvolvimento da indústria petrolífera são-tomense, mas a Taiwan Petroleum está disponível para investir."
Chen-hsiung Lee anota a diferença entre Taiwan e a China em África. "Pequim procura recursos, como petróleo, gás e minerais, e olha para o continente com um mercado gigante. No entanto, retira empregos, porque usa a sua mão-de-obra e materiais. A nossa acção é diferente. No Malawi construímos um dos maiores hospitais da região, ajudando na prevenção da sida." Margarida Santos Lopes

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