Mário Lino nega ter chamado deserto à margem sul

Mário Lino
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Mário Lino Carlos Lopes/PÚBLICO
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"As pessoas quando não têm argumentos deturpam a realidade. Estávamos a discutir as localizações do aeroporto. Sei muito bem que Almada, Montijo e Setúbal têm gente", disse o ministro à agência Lusa.

O governante frisou que estava a referir-se a Rio Frio, Poceirão e Faias, que, a seu ver, são "vagamente povoadas".

"Toda a gente percebeu o que eu quis dizer. O deserto era a zona de implantação do aeroporto, não me estava a referir ao norte do Alentejo na sua generalidade", disse.

Sítios "sem gente, sem turismo, sem comércio"

Numa intervenção feita ontem num almoço-debate com economistas, em Lisboa, o ministro disse que as alternativas à Ota na margem sul do Tejo são sítios "sem gente, sem turismo, sem comércio", um "deserto para onde seria necessário deslocar milhões de pessoas", apoiando-se num estudo de Manuel Porto, antigo eurodeputado do PSD.

"Fazer um aeroporto na margem sul seria um projecto megalómano e faraónico porque, além das questões ambientais, não há gente, não há hospitais, não há escolas, não há hotéis, não há comércio, pelo que seria preciso levar para lá milhões de pessoas", disse Mário Lino.

O titular da pasta das Obras Públicas disse ainda que um novo aeroporto na margem sul do Tejo seria "uma espécie de Brasília do norte do Alentejo".

O ministro sublinhou também que "ninguém consulta um engenheiro para decidir onde ficará um aeroporto". "A engenharia portuguesa tem algum problema em resolver este problema de um aterrosinho, num mundo onde se constroem aeroportos no mar?", questionou.

Mário Lino não resistiu também a comparar a opção sul do Tejo a um doente aparentemente de boa saúde, mas "com um cancro nos pulmões".

PSD pede demissão de Mário Lino e CDS quer explicações de Sócrates no Parlamento

As declarações de ontem do ministro já levaram o PSD a pedir ao primeiro-ministro que demita Mário Lino.

"Só posso entender pelo ambiente descontraído do almoço. Com certeza que se terá excedido", disse o coordenador do partido para a área das obras públicas, Luís Rodrigues, que é também deputado eleito por Setúbal.

"Esta é a segunda vez que o ministro fez um mau serviço ao governo", sublinhou o deputado social-democrata, ontem, em declarações ao PÚBLICO. Luís Rodrigues lembrou que "a primeira vez foi aquela piada humorística sobre a Ordem dos Engenheiros e sobre o próprio primeiro-ministro".

O deputado social-democtrata acrescentou que o ministro Mário Lino "só está a dar argumentos a todos os que são contra o aeroporto da Ota".

Já o deputado democrata-cristão Nuno Gonçalves pediu que o ministro das Obras Públicas e o primeiro-ministro prestem hoje esclarecimentos ao Parlamento.

Nuno Gonçalves disse que o seu partido está disposto a discutir "um projecto que hipoteca a vida de milhares de portugueses" mas está contra "um investimento deste tamanho quando são pedidos tantos sacrifícios".

Em declarações à rádio TSF, os autarcas do Barreiro, do Seixal e de Alcochete consideraram que as afirmações do ministro são ofensivas para a população da margem sul.