João Garcia parte hoje rumo ao K2, a segunda montanha mais alta do mundo
É a montanha mais difícil e tem meteorologia caprichosa, mas o alpinista português está confiante
a O alpinista português João Garcia parte hoje para o Nepal, onde vai cumprir um período de pré-aclimatação com vista à tentativa de escalar o K2 (8611m), no Paquistão, a segunda montanha mais alta do mundo. Será, em caso de sucesso, o nono pico com mais de 8000m no seu currículo.É a terceira etapa do projecto À Conquista dos Picos do Mundo, que tem o apoio do Millenium bcp e a finalidade de colocar Garcia no restrito grupo de alpinistas que escalaram todos os "oito mil". Até ao momento, só 13 homens conseguiram esta proeza, menos de metade sem recorrerem ao uso de garrafas de oxigénio, uma premissa nas escaladas do português.
Sem oxigénio, sem ajuda de carregadores de altitude e... sem portugueses. Excepção feita ao jornalista Aurélio faria, da SIC, que acompanhará a expedição (esta poderá ser seguida nos sites da estação televisiva e do Millenium), os outros elementos do grupo são estrangeiros: o sherpa Nuru Wangchhu, o francês Johan Perrier e o belga Maurits Vreudge. "A lógica da equipa portuguesa foi uma fase que chegou ao fim, infelizmente marcada pela morte do Bruno Carvalho [no ano passado, após chegarem ao cume do Shishapangma]. Fizemos um "seis mil", um "sete mil", um "oito mil". Agora, é seguir em frente, nomeadamente aprendendo a delegar responsabilidades e a escolher pessoas especializadas", diz Garcia.
Os papéis parecem definidos: Maurits Vreudge (60 anos) é médico, Johan Perrier (32) operador de câmara, Nuru Wangchhu (30) parceiro de escalada. "É um misto de lógica e de empatia. Já escalei com todos, no Gasherbrum II com o Maurits, no Pumori com o Johan, no Shishapangma com o Nuru." No caso deste último, o K2 pode representar um enorme salto em frente na carreira: depois de três cumes do Evereste, um deles sem oxigénio, Nuru pode tornar-se apenas o sétimo sherpa a pisar os dois picos mais altos do planeta. Mas Nuru não é um assalariado: "Ele já pertence à geração de sherpas que escalam por desporto. Terá sempre a tentação de me querer carregar os sacos e essas coisas, mas eu é que não deixo..."
Garcia e os seus companheiros planeiam escalar o K2 pela via mais comum, a Abruzzi Spur. Mas não há rotas fáceis nesta pirâmide de rocha e gelo, tida como a mais exigente dos "oito mil". "Há muita gente, de fora, que dirá que este é "o" desafio. Mas eu, com humildade, como sempre, acho que é mais uma montanha. É difícil, mas também há muitos mitos", explica Garcia, reconhecendo o feitio "caprichoso" do K2 em termos meteorológicos. Há anos em que nenhum alpinista consegue alcançar o cume. Garcia encontrará os parceiros de escalada em Islamabad, no Paquistão, a 8 de Junho e conta alcançar o campo-base do K2 duas semanas depois, após um trekking de aclimatação. A licença só termina a 31 de Julho e João Garcia assume que a(s) tentativa(s) de cume deva(m) ocorrer na última quinzena desse mês.