Em concerto no Teatro da Comuna como num filme de Kusturica

a Os Kumpania Algazarra e os OliveTree encheram o Teatro da Comuna, em Lisboa, no último sábado. As 400 pessoas que esperaram pacientemente pelo início do concerto - começou muito atrasado devido a problemas técnicos - não se arrependeram. Quando o espectáculo começou, os corpos dançaram e pularam com uma música enérgica, com sonoridades ciganas, egípcias. Loucos? Sim, mas não só. Apesar de gostarem de se divertir e de divertir, eles mostraram que levam a música muito a sério.
Os Kumpania Algazarra são uma "família" de oito elementos (pode ser de sete ou até nove, dependendo do concerto), que começou a tocar nas ruas. Actuam desde 2004 e dizem-se muito originais. "Ninguém toca aquilo que tocamos em Portugal", diz Trinta (guitarra acústica, saxofone e voz) no fim do concerto. A sua música, tocada só com instrumentos acústicos, leva-nos a sentir que entramos num filme de Emir Kusturica, com paragens no reportório popular português, com influências do afro-beat, do jazz e muitas outras.
Entre o público, altamente receptivo à batida dos Kumpania Algazarra, banda que já tem no currículo vários festivais de Verão, salas de espectáculo em todo o país e uma digressão pela Eslovénia, havia quem os definisse como "loucos, irreverentes e energéticos". No meio da plateia, outra rapariga gritava: "Esta música só dá vontade de dançar, rodar." Para os definir não basta uma palavra, são precisas muitas: turbofolk, afro-beat, jazz, música do mundo, étnica. O objectivo é "divertir e passar uma mensagem", garante Kiko, (trombone). "Uma mensagem de liberdade de expressão e pensamento."
A energia desta formação reflecte-se na música que os seus elementos ouvem e com que se identificam. A banda é muito heterogénea, com músicos dos 24 aos 58 anos, e cada um contribui com as suas diferentes experiências. Prontos para "fazer a festa em qualquer hora, em qualquer lugar", asseguram, esperam o lançamento do primeiro álbum em finais de Maio. Para já, sabe-se pouco deste novo registo - não tem ainda título e a única certeza é que será uma compilação de quatro anos de estrada.
Os OliveTree encerraram a festa no Teatro da Comuna. O trio do Porto considera-se uma alternativa à electrónica e o seu desafio é "recriar os ambientes da tecnolândia, do drum n"bass, utilizando apenas instrumentos acústicos (bateria, percussão e digderidoo)", explica Renato.
O projecto foi impulsionado por Renato Oliveira (didgeridoo), em Liverpool (2003), onde lançou o primeiro CD a solo, Deep inside the Organic (nunca chegou a Portugal, mas passou pela Bélgica, Suíça, Espanha, Holanda). Numa improvisação durante o Festival Andanças 2005 nasceu o trio, juntando ao didgeridoo a percussão e a bateria. Desde aí têm participado em alguns festivais de Verão e preparam o lançamento para este ano do primeiro CD (Didj Dance All Beauty). Os OliveTree, garantem, não querem depender das máquinas, querem transpor o que é eléctrico para o acústico.
A festa de sábado foi o bilhete para uma viagem por diversas culturas. O fim, infelizmente, não foi como a festa merecia. O Teatro da Comuna acendeu as luzes e desligou os microfones, quando os OliveTree ainda iam a meio de um tema, por causa do horário. Mas a vibração ficou no ar, esperando, quem sabe, a próxima festa.

Sugerir correcção