Morreu em Cabo Verde o autor da letra da morna Sôdade
a O autor da morna Sôdade, um dos maiores sucessos da intérprete cabo-verdiana Cesária Évora, morreu terça-feira na ilha de São Nicolau, em Cabo Verde, noticiou a agência Lusa. Com 77 anos, Armando Zeferino Soares era comerciante da ilha de São Nicolau e o funeral realizou-se ontem na aldeia natal, Praia Branca, na mesma ilha cabo-verdiana.Sôdade, a música que o tornou famoso e ficou célebre na voz de Cesária Évora, que já a cantou pelos quatro cantos do mundo, era conhecida também por ter dado origem a uma polémica sobre a sua autoria.
Atribuída à dupla de músicos Amândio Cabral e Luís Morais, a autoria de Sôdade foi posta em causa em 2002 pelo músico Paulino Vieira, que em entrevista ao jornal A Semana apontou Armando Zeferino Soares como o autor da música.
O caso, que teve muita repercussão na imprensa cabo-verdiana e até internacional, chegou a ir a julgamento. Foi o primeiro caso relativo à disputa de direitos de autor que se registou no país, dizia na sua edição on-line o jornal A Semana, em Fevereiro, quando foi conhecida a decisão do tribunal. Armando Zeferino Soares, confirmando-o como verdadeiro autor de Sôdade.
"A dupla Cabral-Morais tinha-a registado na Sacem (organismo que administra os direitos autorais em França) em 1991, quando estava para sair Miss Perfumado, primeiro grande êxito mundial de Cesária Évora. Isso, depois de esta música ter sido gravada por vários outros intérpretes, entre os quais o próprio Amândio Cabral, em 1960, e o angolano Bonga, no início da década de 70", escrevia A Semana na edição de 2 de Fevereiro.
Em 2000, em entrevista à agência Lusa, Armando Zeferino Soares descreveu as circunstâncias em que concebeu a música. Tudo aconteceu quando foi despedir-se de um grupo de conterrâneos que iria emigrar para São Tomé e Príncipe, nos anos 50.
"Estávamos na despedida de um grupo de amigos que ia embarcar para São Tomé e na despedida fiz esta música", recordou na altura. Daí a letra: "Quem mostra" bo/Ess caminho longe?/Quem mostra" bo/Ess caminho longe?/Ess caminho/Pa São Tomé."
Naquela época, as despedidas musicais eram comuns e muito carregadas de emoção, pois vários cabo-verdianos não regressavam das roças de cacau e café de São Tomé.
Cinquenta anos depois, a morna Sôdade é considerada como a mais emblemática música de Cabo Verde. Hoje esta palavra dá nome a bares e discotecas e até a revistas de música e tartarugas de Cabo Verde.
Cantada por vários intérpretes cabo-verdianos e de outras nacionalidades, Sôdade reflecte uma das principais características do cabo-verdiano e da música de Cabo Verde: a saudade e o amor à terra e o dilema de "ter de partir e querer ficar".