Sindicatos da Fenprof divididos na eleição para o sucessor de Paulo Sucena
A maior estrutura sindical de professores vai eleger um novo secretário-geral. Mário Nogueira e Manuela Mendonça disputam a liderança. O programa é comum mas os apoios são distintos
a Pela primeira vez na história da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), os seis sindicatos filiados na maior estrutura representativa de docentes não se entenderam quanto ao candidato a apoiar para o cargo de secretário-geral. Mário Nogueira, coordenador do Sindicato dos Professores da Região Centro, e Manuela Mendonça, dirigente do Sindicato dos Professores do Norte, encabeçam as duas listas que vão a votos entre 19 e 21 de Abril. Ambos defendem o mesmo plano de acção, aprovado por unanimidade no secretariado nacional, mas a divisão está instalada. Se Mário Nogueira conta com o apoio das direcções da maioria dos sindicatos da Fenprof - Centro, Sul, Madeira e Açores - Manuela Mendonça tem a seu lado as direcções das duas maiores estruturas (Sindicato dos Professores da Grande Lisboa e Sindicato dos Professores do Norte). O que por si só não permite antever qualquer resultado quanto ao sucessor de Paulo Sucena, há 13 anos secretário-geral da organização que conta com cerca de 70 mil sócios. É que nem todos os delegados irão votar de acordo com a posição dos seus dirigentes.
Certo é que as tentativas de influenciar os mais de 800 delegados que irão participar no congresso já começaram. De um lado, explora-se a assumida militância comunista de Mário Nogueira, que foi mandatário de Jerónimo de Sousa nas últimas eleições presidencias. "É uma tentativa óbvia de criar alguns constrangimentos. Mas a minha lista tem elementos do PCP, do PS, do Bloco de Esquerda e uma esmagadora maioria de pessoas que não são de partido nenhum", afirma Mário Nogueira.
O coordenador faz questão de refutar outra questão que "tem aparecido nos jornais": "Candidato-me ao cargo de secretário-geral para cumprir o mandato de três anos. É uma profunda mentira que a esta candidatura se segue outro passo que seria a substituição de Carvalho da Silva na CGTP [as eleições para o secretariado-geral são em 2008], sublinha.
Em relação à candidatura de Manuela Mendonça, fala-se de uma alegada proximidade ao PS. "Nunca fui filiada em nenhum partido, nem nunca tive uma relação informal sequer. Demarco-me inequivocamente do que tem sido a acção deste Governo e deste Ministério da Educação", responde prontamente. Sobre a origem dos comentários, Manuela Mendonça tem uma explicação. "Se aparecem é com uma intencionalidade. A pior coisa que se pode dizer de um candidato a secretário-geral da Fenprof é que tem simpatia pelas medidas que este Governo está a tomar".
António Avelãs, do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, rejeita a ideia de que haja "ingerência política ou tentativa de controlo partidário". Mas lamenta que não tenha havido acordo no seio da Fenprof para se chegar a uma lista única. Depois de ter sido apresentado como candidato, o sindicato entendeu retirar a candidatura, numa tentativa de "criar um espaço de unidade". "Infelizmente, a intransigência de Mário Nogueira não o permitiu", critica António Avelãs. "Os congressistas vão ter de fazer um esforço muito grande para que a Fenprof não saia fragilizada deste congresso".
É isso que prometem Mário Nogueira e Manuela Mendonça. Até porque a avaliação absolutamente negativa que fazem da acção do Governo é comum. Nomeadamente, em relação ao novo estatuto da carreira docente que continuarão a contestar.
"As formas de actuar é que podem ser diferentes", explica Manuela Mendonça, que vai mobilizar os professores contra a "arrogância e prepotência do poder político". "No dia seguinte o ME não vai esperar facilidades", diz Mário Nogueira, que promete "acentuar mais a acção sindical desenvolvida pela Fenprof".
Mário Nogueira
Coordenador do Sindicato dos Professores da Região Centro
Tem sido um dos rostos mais visíveis à contestação do novo estatuto da carreira docente. Tem 48 anos e é professor do 1.º ciclo
Manuela MendonçaDirigente do Sindicato dos Professores do Norte
Tem 46 anos, pertence ao secretariado da Fenprof e é a primeira mulher candidata ao cargo de secretário-geral. É professora do ensino secundário