Richard Rogers ganhou o Pritzker
E o Pritzker foi para Richard Rogers. Foi um dos arquitectos que popularizou o expressionismo tecnológico. Agora, mais verde,
o gosto pelas estruturas continua
lá, mas actualizado por materiais como o bambu
a Trinta anos depois de ter acabado o Centro Pompidou de Paris, o arquitecto e urbanista britânico Richard Rogers ganhou o Prémio Pritzker, a distinção mais importante da profissão. No júri, estava o seu amigo italiano Renzo Piano, co-autor do icónico centro em Paris e que há nove anos já tinha ganho o Pritzker, também com o Pompidou como obra central no seu trabalho. Para Rogers, 73 anos, o prémio não veio atrasado e é especial. "Este é como o Nobel e é mais sobre arquitectura. É um bom momento", disse ontem o arquitecto ao PÚBLICO, numa entrevista telefónica a partir de Londres.
Rogers já recebeu quase todos os prémios de arquitectura e urbanismo: foi Leão de Ouro, pela sua carreira, na última Bienal de Veneza; em 2006 recebeu o Prémio Stirling pelo Terminal 4 do Aeroporto de Barajas, em Madrid, só para falar das duas distinções mais recentes. Foi com o projecto de Barajas, aliás, que se voltou a falar de Richard Rogers como arquitecto, onde regressa ao tema do edifício como máquina que já tinha explorado no Pompidou, mas agora numa versão mais fluída e usando o bambu como material. Trinta anos depois, Richard Rogers é um homem muito mais verde.
O arquitecto é assessor do primeiro-ministro Tony Blair e do mayor de Londres Ken Livingstone. Adora cidades, "acredita nas cidades", afirmou. O júri sublinhou a sua importância como urbanista e o seu papel como defensor de uma arquitectura sustentável e social. "Rogers é um campeão da vida urbana e acredita no potencial da cidade como catalisador da vida social", escreve o júri, no comunicado de imprensa.
Entre o Centro Pompidou e Barajas, muita coisa mudou, principalmente a situação ambiental do planeta, diz na conversa Richard Rogers: "Enfrentamos uma crise global com as alterações climáticas e a possibilidade da humanidade não sobreviver. Sabíamos isso há 30 anos atrás, mas não éramos tão conscientes como agora. Por isso, as estruturas mudaram consideravelmente. Os edifícios são desenhados para responder melhor ao ambiente: ao vento, ao sol, à água, à limpeza. O ambiente é crucial em arquitectura."
Nos anos 70, numa altura em que Rogers e Renzo Piano eram hippies e, como toda uma geração, do contra, "crucial era a relação entre a envolvente e a mudança social, a ligação entre a inclusão social e a boa arquitectura". O Centro Pompidou, lembra Rogers, "teve um impacto importante na regeneração urbana de uma área pobre", com a grande praça e os espaços públicos que se prolongam dentro do edifício.
No Pompidou, forrado de tubos coloridos, exploraram-se também coisas que, como Rogers diz, são princípios da arquitectura: a flexibilidade, a transparência, a leitura da estrutura. Coisas que regressam em Barajas, mas agora de uma forma mais fluída. E, claro, há também o bambu - "altamente sustentável", como sublinha Rogers.
Sobre o centro de Paris, o júri escreveu que o projecto "revolucionou os museus, transformando aquilo que eram monumentos de elite em lugares populares de trocas sociais e culturais".
Nascido em Florença
Richard Rogers é um inglês nascido em Florença. O pai, que foi um dos seus primeiros clientes com a casa em Wimbledon, é um médico, de origem italiana, primo de Ernesto Rogers, um conhecidíssimo arquitecto de Milão e colaborador da Domus e Casabella. Rogers formou-se em Londres, na Architectural Association, depois de um ensino secundário com algumas dificuldades por causa da sua dislexia, só diagonisticada anos depois. Esteve em Yale, nos EUA, com uma bolsa Fulbright.
De regresso a Inglaterra, abriu um atelier, a famosa Team 4, com a sua primeira mulher Su, Norman Foster e Wendy Cheesman. A "equipa" foi desfeita e em 1967 Rogers abriu, sozinho, o seu escritório. Renzo Piano junta-se em 1971, criando a assinatura Piano & Rogers, e foi nesse ano que ganharam o concurso para o Pompidou. Os dois separaram-se em 1978. O novo atelier, chamado Richard Rogers Partnership, teve como primeira encomenda o Lloyd"s Bank, em Londres.
Décadas depois, com 100 funcionários, o atelier vai mudar de nome no próximo mês - será Rogers Stirk Harbour + Partners, um statement contra o individualismo dos arquitectos estrela: "É uma mudança na continuidade. Tenho 73 anos, não tenho intenções de me reformar, mas convidei dois sócios mais novos, que trabalham comigo há 20 anos, para se juntaram. Eu acredito completamente no trabalho de equipa."
Neste momento, Richard Rogers tem vários projectos para Nova Iorque, um deles é uma torre para o ground zero de Manhattan. Os arranha-céus e os edifícios icónicos, diz, não são incompatíveis com uma cidade sustentável: "É uma escolha, não é bom nem mau, depende de onde colocamos as torres. Tem a ver com arte e ciência, com a morfologia em termos de ritmo, também com as implicações científicas do transporte público das pessoas."
O arquitecto vai receber a 4 de Junho o Pritzker, um prémio que Álvaro Siza Vieira já ganhou em 1992. São 75 mil euros e uma medalha de bronze.